quarta-feira, 28 de março de 2018

Capítulo III – TIPOS DE ESTUDOS EMPREENDIDOS EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

Silvestre
Galho
2018


Capítulo III – TIPOS DE ESTUDOS EMPREENDIDOS EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
No presente capítulo, abordaremos as questões de carácter metodológico (métodos e técnicas) relevantes para as pesquisas em desenvolvimento.
Para falarmos dos métodos e das técnicas de investigação em Psicologia do Desenvolvimento, devemos no entanto, lembrar-lhe que a investigação nesta área do conhecimento pode ser feita, fazendo uso de um conjunto de recursos tais como: observação sistemática, métodos psicofisiológicos, questionários, estudo de caso, descrições etnográficas, etc.


Observação sistemática: (um dos métodos objectivos proposto pelos Behavioristas). Assim, a utilização deste método, permite-nos registar os comportamentos tal como ocorrem num contexto natural, como por exemplo na escola durante o intervalo, no local de trabalho, ou até mesmo no ambiente familiar. Também podem ser feitas observações em situações estruturadas, como por exemplo, quando pedimos a um pai que leia uma história ao filho. As autoras Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo in Psicologia da Educação, Volume 2, p. 39, argumentam que apesar de se considerar que as observações estruturadas são típicas de um contexto laboratorial, os argumentos da perspectiva ecológica conduziram os psicólogos do desenvolvimento à realização destas observações nos contextos em que os comportamentos, que são alvo de estudo, ocorrem (por exemplo, a casa, a escola, o local de trabalho). Para este facto, contribuíram também os avanços tecnológicos que permitem a utilização de técnicas cada vez mais sofisticadas de gravação audiovisual.


Métodos psicofisiológicos: permitem explorar as relações existentes entre os aspectos de ordem psicológica e biológica num organismo, analisando em que medida uma dada situação (por exemplo a saída da mãe da sala em que se encontrava com o filho) se traduz em reacções fisiológicas quantificáveis (a temperatura do rosto da criança pode ser um indicador do seu estado emocional). Alguns dos parâmetros fisiológicos mais utilizados são a actividade cerebral e o ritmo cardíaco (in Palacios, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p.40.

Questionários: é mais uma técnica do que um método propriamente dito. E, com esta técnica pretende-se que os sujeitos respondam a uma série de perguntas ordenadas de acordo com um determinado objectivo e com um grau diferente de estandardização, de estruturação interna e de categorização das respostas. Habitualmente, um questionário pode ser administrado verbalmente, à crianças mais novas, ou por escrito aos mais velhos ou aos que dominam a escrita.

Estudo de caso: este método, trata da análise de casos individuais nos quais os aspcetos de carácter qualitativo e idiossincrático são considerados fundamentais.
Habitualmente, são analisados vários casos individuais que representam circunstâncias diferentes que interessa comparar.

Descrições etnográficas: herdada dos antropólogos, este método implica uma observação participante (como por exemplo, participar activamente numa aula, passar um dia com uma família), a realização de registos no momento e a sua elaboração posterior no sentido de compor um quadro impressionista cujas pinceladas são os fragmentos da observação.
De acordo com Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Opcit. p. 42, o método de experimentação é, dentre os métodos de pesquisa, o que oferece o mais alto grau de certeza na conclusão, dadas as condições de controle. Mas, lembramos também que a informação obtida através de qualquer método ou técnica, pode ser analisada com o recurso a uma diversidade de estratégias, das mais qualitativas às mais quantitativas. No entanto, o que confere a uma pesquisa um carácter desenvolvimental é a utilização de desenhos de investigação, nos quais a variável idade desempenhe um papel organizador. Neste sentido, podem referir-se essencialmente, dois tipos de estudos do desenvolvimento que se apresentam de seguida.

Os estudos longitudinais
Nos estudos longitudinais, estudam-se os mesmos sujeitos ao longo de um tempo longo, com o objectivo de analisar de que forma evoluem as características que são alvo de estudo. Este tipo de estudo é o único que permite analisar as modificações intra-individuais, isto é, de que forma um determinado sujeito se modifica ao longo do tempo. À medida que uma recolha de dados se distancia da seguinte, surgem problemas relacionados com a mortalidade experimental, isto é, perdem-se sujeitos, por exemplo, que mudam de residência ou que deixam de querer participar no estudo. Este facto pode ser prejudicial para a investigação, uma vez que pode acarretar uma menor representatividade da amostra de estudo relativamente ao conjunto da população (se a representatividade constituía uma das intenções do estudo). Se as recolhas de dados forem muito distanciadas, o estudo torna-se, também, mais caro e a continuidade da equipa de investigação pode encontrar-se ameaçada (in Palacios, 1995, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Psicologia da Educação, p. 41.

Os estudos transversais
Nos estudos transversais, estudam-se simultaneamente e em um curto espaço de tempo, sujeitos de idades diferentes, com o objectivo de analisar as diferenças relacionadas com a idade, nas características que interessam o estudo. Contudo, este tipo de estudo não permite realizar um acompanhamento rigoroso das modificações intra-individuais, permitindo, no entanto, em pouco tempo, formar ideias acerca das principais modificações relacionadas com a idade. Assim, os estudos transversais tornam-se mais rápidos e económicos. No sentido de as modificações relacionadas com a idade ficarem bem documentadas, torna-se necessário utilizar amostras de sujeitos com idades diferentes, mas que sejam semelhantes nos restantes aspectos (por exemplo, em termos socioculturais).

 Tipos de estudos longitudinais e transversais
Tanto os estudos longitudinais como os transversais podem ser simples ou sequenciais. Nos estudos simples, apenas uma geração se encontra envolvida na pesquisa; por exemplo, num estudo longitudinal simples, são estudados repetidamente sujeitos nascidos em 1960, desde os 10 até aos 40 anos. Num estudo transversal simples, sujeitos de idades diferentes são estudados num mesmo ano (in Palacios, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p. 41.
No sentido de se salientar a influência que os factores histórico-sociais têm no desenvolvimento, os autores que se enquadram numa perspectiva do ciclo de vida, já referida anteriormente, reforçam a importância do conceito de geração na pesquisa do desenvolvimento. Cada geração é definida, não por intervalo fixo de tempo, mas pelo facto de as pessoas nascidas num determinado ano, por exemplo, terem sofrido uma influência diferente da sofrida pelas pessoas noutro ano (por exemplo, uma crise económica, uma convulsão política, um conflito armado, uma catástrofe natural, etc.). Assim, se pretendermos analisar o efeito dessa influência no desenvolvimento, ter-se-á que comparar dois grupos, os que receberam a influência e os que não receberam. Uma investigação em que são introduzidas duas gerações é denominada sequencial. Num estudo sequencial longitudinal, os mesmos sujeitos, de cada uma das gerações, são estudados ao longo do tempo. Num estudo sequencial transversal, são considerados dois grupos de sujeitos que correspondem a duas amostras diferentes em termos de geração a que pertencem, isto é, um grupo de sujeitos que foi afectado por uma influência histórica e um grupo que não sofreu essa influência (in Palacios, 1995, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p. 42.


Elaborado por: Silvestre Galho

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