terça-feira, 27 de março de 2018

Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

Silvestre
Galho
2018
Capítulo I – FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS
1 – Origem da Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

É muito antiga a preocupação da humanidade com a natureza da criança e com a marcha do seu desenvolvimento. Assim, filósofos, médicos, linguistas e tantos outros pensadores do passado, tiveram sua atenção atraída pela natureza da criança.
O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), considerado o ‘’descobridor da criança’’, foi o verdadeiro iniciador dos estudos do desenvolvimento. Em 1762, foi publicado o seu célebre livro, Emílio. Nesse romance, em vários volumes, Rousseau descreve a infância e o desenvolvimento de uma criança imaginária, criada por um sábio preceptor em contacto com a natureza. Através de Emílio – o personagem em questão, Rousseau tenta uma descrição dos estágios pelos quais a criança vai passando, do nascimento à puberdade. Procura dessa maneira descobrir como a natureza leva a criança a desenvolver-se ‘’em suas faculdades e em seus órgãos’’.
No prefácio desse romance pedagógico, Rousseau cogita, pela primeira vez, na necessidade de ‘’estudar a criança antes de querer educá-la’’. São suas as palavras: ‘’Começai por estudar vossos alunos, pois é bem certo que não os conheceis’’.
Em 1770, o professor suíço Johann Heinrich Pestalozzi começou a escrever, sob a forma de diário, as observações que ia fazendo do desenvolvimento diário de seu filhinho. 1 Em 1787, na Alemanha, Deitrich Tiedemann publicou a primeira observação sistemática da evolução mental da criança. Esse trabalho consistia nas observações que Tiedemann colheu de seu filho, desde o nascimento até aos 3 anos de idade.
Dos registos de observações de crianças, feitos sob a forma de diários, o mais conhecido é o de Guilherme T. Preyer, publicado em 1881, sob o título A alma da criança.
Além desses registos gerais sobre as actividades da criança, apareceram, por vezes, diários parciais em que não se regista o desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos, mas apenas em um, como o progresso no desenho, na linguagem etc. Por exemplo, Georges Henri Luquet publicou O desenho de uma criança, que era uma colecção dos desenhos de sua filha Simone, até a idade de 10 anos, acompanhada da explicação do seu desenvolvimento.
Além de filósofos e médicos, outros especialistas (biólogos, linguistas, e criminalistas)
deram também valiosas contribuições ao estudo da criança.
A partir dessas tentativas, raras e isoladas, constituiu-se o acervo de estudos que temos
hoje sobre a criança e seu desenvolvimento. 2
A psicologia do desenvolvimento automatiza-se como ramo da psicologia geral nos
finais do século XIX, sendo marcada por grandes avanços até aos nossos dias. Acompanhou a
evolução da ciência e das transformações socioeconómicas, bem como das representações
sociais do que é ser criança.
Até Rousseau, no século XVIII, a infância não era perspectivada como um período de
desenvolvimento diferenciado, com especificidade própria. As crianças eram encaradas como
adultos em miniatura, o que se reflecte na literatura e na pintura de várias culturas e épocas.
O historiador Philippe Ariès, nos anos 60, afirmou que na sociedade medieval não
existia um «sentimento de infância nem de adolescência». Considera que não existia distinção
de tipos de actividades, divertimentos e até de trabalho entre os mais novos e os adultos. A
adolescência como estádio específico define-se com a industrialização, no século XIX.
No século XIX, Charles Darwin, ao estudar as semelhanças e as diferenças entre o
animal e o ser humano, evidenciou o papel da evolução e chamou a atenção para que se
fizessem estudos sobre a infância.
Outro aspecto importante na história da psicologia do desenvolvimento ocorre no
século XX, por muitos considerado o século dos direitos humanos, em que são consignados os
direitos da criança. No processo de automatização da psicologia do desenvolvimento,
também não será alheia a evolução da medicina e da pedagogia.
As transformações na nossa forma de pensar, interagem com as transformações na
organização social e familiar. Estas mudanças acarretam práticas educativas diferentes, um
papel e um estatuto da criança e do adolescente no interior da família, assim como aumentam
as responsabilidades sociais, como as creches, os jardins-de-infância, as escolas de diferentes
graus de ensino, bem como a ocupação organizada dos tempos livres, têm tido uma grande
influência na divisão e separação etária, bem como nas actividades consideradas adaptadas às
diferentes etapas.
Hoje, muito se investe e se joga na criança e no jovem. É, contudo, de relevar as
grandes diferenças existentes entre as crianças, relacionadas com factores pessoais,
socioculturais, económicos e geográficos. Muito há de comum e de divergente nas crianças e
adolescentes de uma sociedade rica e avançada e, por exemplo, de um país em guerra.

Objecto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento
O objecto da psicologia do desenvolvimento é o próprio ser humano em
permanente evolução, analisando as várias etapas da vida (infância, adolescência,
juventude, fase adulta e velhice) do desenvolvimento dos processos biológicos e psicológicos
nas relações interactivas da pessoa e do meio.
Importa-nos aqui recordar que, ainda que durante muito tempo a Psicologia do
Desenvolvimento se tenha ocupado dos processos que ocorrem apenas durante a infância e a
adolescência, os psicólogos mais recentes têm vindo a aceitar progressivamente que o seu
objecto de estudo é toda a vida do ser humano e os processos de modificação psicofisiológica
que nela ocorrem. E, Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010, p. 33, afirmam que falar
das origens e da evolução desta disciplina, significa analisar a evolução dos estudos da criança
e do adolescente desde os antecedentes mais remotos até aos finais da década de 60 do século
XX.
As autoras supra citadas, argumentam que a Psicologia do Desenvolvimento
contemporânea surgiu no momento em que o estudo dos processos de modificação
psicológica ultrapassou as fronteiras da infância e da adolescência, passando a integrar no seu
estudo a análise do desenvolvimento durante a idade adulta e dos processos de
envelhecimento.


Elaborado por: Silvestre Galho

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