Bases
Fisiológicas Do Comportamento
A
um estudante do curso de Línguas ou de Biologia, poderia ou poderá ocorrer o
seguinte questionamento: Por que estudar a Psicologia, e ainda mais os
fundamentos biológicos do comportamento?
A
resposta é simples!
Em
primeiro lugar, porque o homem é um organismo biológico e, para que se possa
compreender o seu comportamento, há necessidade de se estudar, também, a base
orgânica que permite a sua existência.
Para
que alguém se dê conta da importância dos factores biológicos sobre o
comportamento, basta que reflicta um momento sobre o efeito impressionante das
drogas, observável na vida quotidiana.
O
ramo da Psicologia que estuda a base orgânica do comportamento é chamado de
Psicologia Fisiológica.
A
Psicologia Fisiológica é o estudo do modo pelo qual as mudanças no interior do
organismo (no funcionamento das glândulas endócrinas, por exemplo) levam à
alterações no comportamento (acções, pensamentos, emoções, etc.) e, também, o
exame da maneira pela qual o organismo reage a situações psicológicas como as
emoções, aprendizagens, percepções, etc. (8)
É
importante, também, reconhecer, que antes de mais nada, o indivíduo (animal ou
humano) é uma totalidade e como tal reage. A divisão entre os sistemas fisiológicos
e psicológicos é feita por conveniência de estudo (Elaine Maria Braghirolli,
Guy Paulo Bisi, et al, p. 53).
A
análise e experimentação fisiológicas permitem compreender muito sobre o
comportamento. Um exemplo é o estudo fisiológico levado a efeito sobre o
fenómeno da fadiga ‘’psicológica’’, nome dado ao cansaço que sente a pessoa
empenhada em uma tarefa rotineira, monótona, por muito tempo. A explicação para
este fenómeno revelou-se fora do âmbito da fisiologia do organismo.
Da
mesma forma, observou-se que mudanças eléctricas ou químicas em determinadas
áreas do cérebro têm estreita relação com mudança nos estados afectivos.
Assim,
o estudo da estrutura fisiológica e seu funcionamento contribuiu de forma
valiosa para a compreensão dos fenómenos comportamentais, quer humanos, quer
animais.
________________________
(8)
Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto.
Psicologia Geral, 33ª edição, p. 53
3.1
- Mecanismos Fisiológicos Do Comportamento
Pode-se
compreender o comportamento como o produto do funcionamento de três mecanismos
fisiológicos, correspondendo, cada um deles a uma estrutura orgânica básica. São
eles:
Ø Mecanismo
receptor:
constituído pelos órgãos dos sentidos e que têm como função captar os estímulos
do meio;
Ø Mecanismo
efector: compreende os músculos e as glândulas e
reage aos estímulos captados;
Ø Mecanismo
conector:
constituído pelo sistema nervoso, que estabelece a conexão entre o receptor e o
efector.
Mecanismo
receptor
Os
sentidos
Os
órgãos dos sentidos permitem a captação de um número incrível de informações,
tanto do meio externo quanto interno.
Apesar
de algumas pesquisas antigas continuarem a apontar cinco sentidos, as pesquisas
fisiológicas mais recentes apontam um número maior de sentidos no homem.
Assim,
segundo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 54, os sentidos
podem ser classificados em dez categorias: visão, audição, olfacto, paladar,
tacto, frio, calor, dor, cinestesia e equilíbrio.
Esta
classificação é até certo ponto arbitrária, pois poder-se-ia listar u número
maior de sentidos para o homem se se considerasse, por exemplo, a existência de
receptores para a visão (cones e bastonetes) ou de receptores diferentes para
os diferentes tipos de gosto (azedo, doce, salgado e amargo).
Os
sentidos de tacto, frio, calor e dor são chamados, em conjunto, de sentidos
cutâneos, e a cinestesia e equilíbrio são sentidos proprioceptivos, em oposição
aos demais, exterioceptivos.
Os
receptores
O
elemento que realmente define cada sentido é o conjunto de células receptoras
especializadas. Cada tipo de receptor reage a um tipo diferente de energia.
Assim,
alguns receptores respondem à energia térmica, outros a energia química, uns à
luminosa e outros à energia mecânica.
Os
receptores térmicos encontram-se na pele, os receptores químicos são os do
paladar e os do olfacto, os receptores da luz estão na retina dos olhos. Os
receptores da energia mecânica são os da audição, da pressão (na pele), do
sentido cinestésico e do equilíbrio.
Os
receptores cinestésicos estão localizados nos músculos, tendões e articulações
e informam sobre a posição dos membros e grau de contração muscular (Elaine
Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 55).
Este
sentido tem um importante papel na nossa adaptação ao meio. O caminhar, subir e
descer escadas, dirigir automóveis, são alguns exemplos de comportamentos que
seriam impossíveis sem ele.
Os
receptores do equilíbrio, também chamado de sentido vestibular, estão nos
canais semicirculares e vestibulares do ouvido interno e informam sobre a
posição da cabeça e movimento geral do corpo, permitindo assim, a manutenção do
equilíbrio, da postura corporal, dos movimentos firmes.
Os
receptores da dor, localizados em muitos órgãos, reagem a uma grande variedade
de estímulos térmicos, mecânicos e químicos.
As
células receptoras estão ligadas a fibras de células nervosas. Quando uma
célula receptora é estimulada, a energia estimuladora é transduzida. (9)
E,
se a energia for suficientemente grande, originará um impulso nervoso que é
transmitido, através de várias células nervosas, ao córtex cerebral ou a outra
região do sistema nervoso central.
Esta
descrição simplificada do processo de recepção de estímulos mostra que o tipo
de experiência sensorial que temos depende do receptor estimulado e não do tipo
de estimulação.
Por
isso, concordamos com os autores acima mencionados, quando argumentam que é
possível afirmar que não temos uma experiência directa do mundo, mas que a nossa
experiência sensorial é decorrente da estimulação, no córtex, de uma área
sensorial especializada, ‘’ponto de chegada’’ de uma via sensorial específica.
Por exemplo, se um grupo de células no córtex for estimulado através da implantação
de electrodos, a experiência sensorial decorrente pode ser visual, ou auditiva
ou outra, dependendo da área que foi estimulada. Com excepção do olfacto, cada
superfície sensorial do corpo é ligada a uma área sensorial do córtex cerebral,
especializada para um dos sentidos, no lado oposto do cérebro.
________________________
(9)
Transdução é o nome que se dá ao processo de transformação de um tipo de
energia em outro, como por exemplo, a transformação da energia mecânica em
energia eléctrica nervosa.
Mecanismo
efector
As
múltiplas estimulações do meio levam o indivíduo a reagir, para ajustar-se a
ele. Neste processo de ajustamento, o comportamento motor e emocional têm um
importante papel.
O
comportamento observável se dá a partir dos efectores, ou órgãos de resposta,
que incluem músculos e glândulas, activados pelo sistema nervoso.
É
grande a amplitude de respostas humanas possíveis, desde a resposta reflexa
imediata até os mais complexos comportamentos motores como correr, falar,
escrever, etc.
Os
músculos
Os
músculos estriados ou esqueléticos são responsáveis, de maneira geral, pelos
movimentos voluntários do corpo como levantar um peso do chão ou de escrever.
Os
músculos lisos encontrados principalmente nas vísceras, artérias e veias, são
responsáveis, em geral, pelos movimentos involuntários tais como contracção ou
dilatação dos vasos sanguíneos, batimento do coração, etc.
O
músculo cardíaco é o responsável pelo funcionamento do coração.
Sendo
os músculos os órgãos pelos quais dependem toda a actividade do organismo
(manter-se em posição erecta, falar, andar, redigir, etc.) é muito evidente a
sua importância no comportamento do indivíduo, e no processo de adaptação ao
meio.
As
glândulas
Segundo
Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 57, as glândulas do
organismo são classificadas em endócrinas
(se lançam seus produtos na corrente sanguínea), exócrinas (se os lançam na superfície do organismo ou em alguma
cavidade) e mistas (se lançam alguns
produtos na corrente sanguínea e outros fora dela).
Assim
como os músculos, as glândulas se constituem em mecanismos de resposta. Como
por exemplo: o organismo reage ao alimento, procurando digeri-lo, através da
acção das glândulas salivares ou elimina substâncias através dos poros
cutâneos, pela acção das glândulas sebáceas ou sudoríparas.
As
secreções das glândulas exócrinas (principalmente das lacrimais, salivares e
sudoríparas) são úteis como indicadoras observáveis de estados emocionais.
São
as glândulas endócrinas, entretanto, as de maior interesse para o estudo da
Psicologia. Lançando suas hormónas na corrente sanguínea, estas glândulas
promovem reacções globais do organismo, agindo como excitantes ou inibidoras de
certas funções dos órgãos e tecidos. Estas glândulas têm íntima relação com as
actividades motoras e emocionais do homem.
Um
exemplo que demonstra claramente a relação mútua existente entre o
funcionamento das glândulas endócrinas e o comportamento é o facto de o tamanho
da glândula suprarrenal influenciar a reacção do adulto no stress. Por outro
lado, o tamanho das suprarrenais pode ser modificado pela intensidade do stress
a que é submetida a criança.
A
suprarrenal é constituída de duas partes: o córtex e a medula suprarrenal. A
medula que é o núcleo da glândula, entra em actividade durante os estados
emocionais, produzindo adrenalina que prepara o organismo para as emergências.
O córtex suprarrenal segrega hormónas que regulam a manutenção da vida, tanto
assim que a destruição do córtex suprarrenal produz a morte. Estas hormónas
controlam ainda o metabolismo do sal e carbohidrato do organismo.
As
gónadas (glândulas sexuais) são responsáveis pela determinação do impulso
sexual, crescimento dos órgãos sexuais e pelo desenvolvimento das
características sexuais secundárias.
É
interessante notar que no homem, diferentemente do que ocorre no animal, a
castração, após o alcance da fase adulta, não provoca o desaparecimento das
respostas sexuais. Parece que no homem o sexo não é apenas resposta hormonal,
mas também pensamento e sentimento.
As
hormónas segregadas pela tiróide actuam sobre a actividade metabólica das
células. O cretinismo (condição física e mental) é resultante do
hipotiroidismo! Consequentemente, o hipertiroidismo pode provocar perturbações
no crescimento do esqueleto. O nível de actividade de um organismo, a maior ou
menos propensão à fadiga e o peso do corpo estão também relacionados ao
funcionamento da tiróide.
A
hipófise ou pituitária, compreende duas glândulas, a anterior e a posterior,
com funções bem distintas.
A
hipófiese posterior determina o ritmo e o controle da micção. A hipófise
anterior, denominada glândula mestra, produz diferentes hormonas que além de
influenciar no crescimento geral, regulam a actividade das demais glândulas.
Embora
não haja uma relação directa entre a produção de hormonas e a personalidade do
indivíduo, é evidente que o sistema endócrino desempenha destacada função em
nossas motivações e emoções. Cada indivíduo tem o seu próprio padrão endócrino,
assim, diferentes pessoas normais podem ter diferentes padrões endócrinos.
(10)
Deve-se
acrescentar que o sistema endócrino não é o único responsável pelo controle do
comportamento. O sistema nervoso e o meio ambiente também devem ser
considerados.
________________________
(10)
Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto.
Psicologia Geral, 33ª edição, p. 58
Mecanismo
conector
É o sistema nervoso que
estabelece a conexão entre receptores e efectores. Formado por vários bilhões
de neurónios que têm na sua maioria a função de condutores, o sistema nervoso
pode ser dividido, para fins de estudo, de diversas formas.
Uma maneira comumente
usada, é dividi-lo em três grandes partes: sistema
nervoso central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autónomo.
3.2
– Sistema Nervoso
Para a melhor
compreensão da subdivisão do sistema nervoso, dividimo-lo da seguinte forma:
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Central Bulbo raquidiano
Encéfalo Protuberância anular
Cerebelo
Mesencéfalo
Diencéfalo

Sistema
Nervoso Conjunto
de vias nervosas aferentes e eferentes fora do
Periférico sistema
nervoso central
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Sistema Simpático
Autónomo
Sistema
Parassimpático
3.2.1
- Sistema Nervoso Central
A
medula espinal e o encéfalo, envolvidos pela coluna vertebral e caixa craniana
respectivamente, constituem o sistema nervoso central. Este sistema fornece
fibras nervosas para todo o corpo (excepto as vísceras, que são inervadas pelo
sistema nervoso autónomo).
A
medula espinal estende-se da base do
crânio à região sacra, até o cóccix. É uma via condutora de estímulos e
respostas. Tais respostas podem partir do encéfalo ou dela mesma, como é o caso
dos reflexos simples.
A
medula tem, entre suas funções, as de controlo da micção, defecação, respiração
e locomoção.
Assim,
a ruptura acidental dos feixes nervosos da espinal medula implica um défice
motor e sensorial que abrange as zonas do corpo abaixo da lesão: se a lesão
ocorre na parte inferior da medula espinal, a pessoa deixa de poder andar, bem
como controlar os intestinos e a bexiga. Se a lesão ocorre na parte superior da
medula, a pessoa deixa de poder controlar os braços. A lesão da espinal medula
é irreversível.
O
encéfalo é, na verdade, uma massa
integrada, única e grande, mas que pode ser dividida para fins descritivos em
seis partes principais: bulbo raquidiano, protuberância anular, cerebelo,
mesencéfalo, diencéfalo e telencéfalo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi,
et al, p. 59.
O
encéfalo pesa cerca de 1,360kg no homem adulto e é maior na espécie humana, em
proporção ao tamanho do corpo, do que em qualquer outro das espécies animais.
3.2.2
- Sistema Nervoso Periférico
O
sistema nervoso periférico constitui-se por um conjunto de neurónios que vão
dos receptores até a medula espinal e ao encéfalo (aferentes) e ao conjunto de
neurónios que partem do sistema nervoso central e vão aos músculos e glândulas
(eferentes).
3.2.3
- Sistema Nervoso Autónomo
O
sistema nervoso autónomo é o responsável pela acção da musculatura e dos
processos glandulares que de forma geral não estão sujeitos ao controlo
voluntário.
Estruturalmente,
o sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois: o simpático e o
parassimpático.
A
ramificação simpática actua durante os estados de excitação do organismo e age
no sentido de dispender os recursos do organismo. Sua função, em geral, é
preparar o organismo para situações de emergência como as de luta, medo ou
fuga.
A
ramificação parassimpática, pelo contrário, está em acção durante os estados de
repouso, e visa conservar os recursos do organismo.
Alguns
órgãos do corpo são activados por apenas uma destas duas ramificações, mas
geralmente as estruturas abastecidas pelas fibras de uma delas também o são
pelas de outra.
Em
regra, as duas divisões funcionam de modo antagónico. Portanto, repara que numa
situação de medo, a divisão simpática acelera o ritmo cardíaco, aumenta o nível
de glicose no sangue, dilata os brônquios tornando a respiração mais rápida,
dilata as artérias coronárias, provoca a vasoconstrição da pele, inibe a
digestão, etc.
Compreendes
agora melhor a origem de alguns sintomas que já experimentaste em situações de
tensão: boca e garganta seca, coração a bater depressa, dores de barriga, etc.
Nos
momentos de distensão, domina a divisão parassimpática: os batimentos do
coração diminuem, ocorre a vasodilatação, que provoca um abaixamento da tensão
arterial, dá-se a contracção dos brônquios, que torna a respiração mais lenta,
estimula a digestão…
Na
maior parte dos órgãos intervêm as duas divisões. Por exemplo: a divisão
simpática acelera o ritmo cardíaco e a parassimpática diminui-o. É o
funcionamento antagónico deste sistema que assegura o equilíbrio do meio
interno do nosso organismo.
A
figura abaixo, mostra o antagonismo funcional destas duas divisões do sistema
nervos autónomo.

Elaborado por: Silvestre Galho
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