domingo, 19 de março de 2017

Bases Fisiológicas Do Comportamento

Bases Fisiológicas Do Comportamento
A um estudante do curso de Línguas ou de Biologia, poderia ou poderá ocorrer o seguinte questionamento: Por que estudar a Psicologia, e ainda mais os fundamentos biológicos do comportamento?
A resposta é simples!
Em primeiro lugar, porque o homem é um organismo biológico e, para que se possa compreender o seu comportamento, há necessidade de se estudar, também, a base orgânica que permite a sua existência.
Para que alguém se dê conta da importância dos factores biológicos sobre o comportamento, basta que reflicta um momento sobre o efeito impressionante das drogas, observável na vida quotidiana.
O ramo da Psicologia que estuda a base orgânica do comportamento é chamado de Psicologia Fisiológica.
A Psicologia Fisiológica é o estudo do modo pelo qual as mudanças no interior do organismo (no funcionamento das glândulas endócrinas, por exemplo) levam à alterações no comportamento (acções, pensamentos, emoções, etc.) e, também, o exame da maneira pela qual o organismo reage a situações psicológicas como as emoções, aprendizagens, percepções, etc. (8)
É importante, também, reconhecer, que antes de mais nada, o indivíduo (animal ou humano) é uma totalidade e como tal reage. A divisão entre os sistemas fisiológicos e psicológicos é feita por conveniência de estudo (Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 53).
A análise e experimentação fisiológicas permitem compreender muito sobre o comportamento. Um exemplo é o estudo fisiológico levado a efeito sobre o fenómeno da fadiga ‘’psicológica’’, nome dado ao cansaço que sente a pessoa empenhada em uma tarefa rotineira, monótona, por muito tempo. A explicação para este fenómeno revelou-se fora do âmbito da fisiologia do organismo.
Da mesma forma, observou-se que mudanças eléctricas ou químicas em determinadas áreas do cérebro têm estreita relação com mudança nos estados afectivos.
Assim, o estudo da estrutura fisiológica e seu funcionamento contribuiu de forma valiosa para a compreensão dos fenómenos comportamentais, quer humanos, quer animais.


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(8) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 53


3.1 - Mecanismos Fisiológicos Do Comportamento
Pode-se compreender o comportamento como o produto do funcionamento de três mecanismos fisiológicos, correspondendo, cada um deles a uma estrutura orgânica básica. São eles:
Ø  Mecanismo receptor: constituído pelos órgãos dos sentidos e que têm como função captar os estímulos do meio;
Ø  Mecanismo efector: compreende os músculos e as glândulas e reage aos estímulos captados;
Ø  Mecanismo conector: constituído pelo sistema nervoso, que estabelece a conexão entre o receptor e o efector.
Mecanismo receptor
Os sentidos
Os órgãos dos sentidos permitem a captação de um número incrível de informações, tanto do meio externo quanto interno.
Apesar de algumas pesquisas antigas continuarem a apontar cinco sentidos, as pesquisas fisiológicas mais recentes apontam um número maior de sentidos no homem.
Assim, segundo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 54, os sentidos podem ser classificados em dez categorias: visão, audição, olfacto, paladar, tacto, frio, calor, dor, cinestesia e equilíbrio.
Esta classificação é até certo ponto arbitrária, pois poder-se-ia listar u número maior de sentidos para o homem se se considerasse, por exemplo, a existência de receptores para a visão (cones e bastonetes) ou de receptores diferentes para os diferentes tipos de gosto (azedo, doce, salgado e amargo).
Os sentidos de tacto, frio, calor e dor são chamados, em conjunto, de sentidos cutâneos, e a cinestesia e equilíbrio são sentidos proprioceptivos, em oposição aos demais, exterioceptivos.

Os receptores
O elemento que realmente define cada sentido é o conjunto de células receptoras especializadas. Cada tipo de receptor reage a um tipo diferente de energia.
Assim, alguns receptores respondem à energia térmica, outros a energia química, uns à luminosa e outros à energia mecânica.
Os receptores térmicos encontram-se na pele, os receptores químicos são os do paladar e os do olfacto, os receptores da luz estão na retina dos olhos. Os receptores da energia mecânica são os da audição, da pressão (na pele), do sentido cinestésico e do equilíbrio.
Os receptores cinestésicos estão localizados nos músculos, tendões e articulações e informam sobre a posição dos membros e grau de contração muscular (Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 55).
Este sentido tem um importante papel na nossa adaptação ao meio. O caminhar, subir e descer escadas, dirigir automóveis, são alguns exemplos de comportamentos que seriam impossíveis sem ele.
Os receptores do equilíbrio, também chamado de sentido vestibular, estão nos canais semicirculares e vestibulares do ouvido interno e informam sobre a posição da cabeça e movimento geral do corpo, permitindo assim, a manutenção do equilíbrio, da postura corporal, dos movimentos firmes.
Os receptores da dor, localizados em muitos órgãos, reagem a uma grande variedade de estímulos térmicos, mecânicos e químicos.
As células receptoras estão ligadas a fibras de células nervosas. Quando uma célula receptora é estimulada, a energia estimuladora é transduzida. (9) E, se a energia for suficientemente grande, originará um impulso nervoso que é transmitido, através de várias células nervosas, ao córtex cerebral ou a outra região do sistema nervoso central.
Esta descrição simplificada do processo de recepção de estímulos mostra que o tipo de experiência sensorial que temos depende do receptor estimulado e não do tipo de estimulação.
Por isso, concordamos com os autores acima mencionados, quando argumentam que é possível afirmar que não temos uma experiência directa do mundo, mas que a nossa experiência sensorial é decorrente da estimulação, no córtex, de uma área sensorial especializada, ‘’ponto de chegada’’ de uma via sensorial específica. Por exemplo, se um grupo de células no córtex for estimulado através da implantação de electrodos, a experiência sensorial decorrente pode ser visual, ou auditiva ou outra, dependendo da área que foi estimulada. Com excepção do olfacto, cada superfície sensorial do corpo é ligada a uma área sensorial do córtex cerebral, especializada para um dos sentidos, no lado oposto do cérebro.






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(9) Transdução é o nome que se dá ao processo de transformação de um tipo de energia em outro, como por exemplo, a transformação da energia mecânica em energia eléctrica nervosa.


Mecanismo efector
As múltiplas estimulações do meio levam o indivíduo a reagir, para ajustar-se a ele. Neste processo de ajustamento, o comportamento motor e emocional têm um importante papel.
O comportamento observável se dá a partir dos efectores, ou órgãos de resposta, que incluem músculos e glândulas, activados pelo sistema nervoso.
É grande a amplitude de respostas humanas possíveis, desde a resposta reflexa imediata até os mais complexos comportamentos motores como correr, falar, escrever, etc.

Os músculos
Os músculos estriados ou esqueléticos são responsáveis, de maneira geral, pelos movimentos voluntários do corpo como levantar um peso do chão ou de escrever.
Os músculos lisos encontrados principalmente nas vísceras, artérias e veias, são responsáveis, em geral, pelos movimentos involuntários tais como contracção ou dilatação dos vasos sanguíneos, batimento do coração, etc.
O músculo cardíaco é o responsável pelo funcionamento do coração.
Sendo os músculos os órgãos pelos quais dependem toda a actividade do organismo (manter-se em posição erecta, falar, andar, redigir, etc.) é muito evidente a sua importância no comportamento do indivíduo, e no processo de adaptação ao meio.

As glândulas
Segundo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 57, as glândulas do organismo são classificadas em endócrinas (se lançam seus produtos na corrente sanguínea), exócrinas (se os lançam na superfície do organismo ou em alguma cavidade) e mistas (se lançam alguns produtos na corrente sanguínea e outros fora dela).
Assim como os músculos, as glândulas se constituem em mecanismos de resposta. Como por exemplo: o organismo reage ao alimento, procurando digeri-lo, através da acção das glândulas salivares ou elimina substâncias através dos poros cutâneos, pela acção das glândulas sebáceas ou sudoríparas.
As secreções das glândulas exócrinas (principalmente das lacrimais, salivares e sudoríparas) são úteis como indicadoras observáveis de estados emocionais.
São as glândulas endócrinas, entretanto, as de maior interesse para o estudo da Psicologia. Lançando suas hormónas na corrente sanguínea, estas glândulas promovem reacções globais do organismo, agindo como excitantes ou inibidoras de certas funções dos órgãos e tecidos. Estas glândulas têm íntima relação com as actividades motoras e emocionais do homem.
Um exemplo que demonstra claramente a relação mútua existente entre o funcionamento das glândulas endócrinas e o comportamento é o facto de o tamanho da glândula suprarrenal influenciar a reacção do adulto no stress. Por outro lado, o tamanho das suprarrenais pode ser modificado pela intensidade do stress a que é submetida a criança.
A suprarrenal é constituída de duas partes: o córtex e a medula suprarrenal. A medula que é o núcleo da glândula, entra em actividade durante os estados emocionais, produzindo adrenalina que prepara o organismo para as emergências. O córtex suprarrenal segrega hormónas que regulam a manutenção da vida, tanto assim que a destruição do córtex suprarrenal produz a morte. Estas hormónas controlam ainda o metabolismo do sal e carbohidrato do organismo.
As gónadas (glândulas sexuais) são responsáveis pela determinação do impulso sexual, crescimento dos órgãos sexuais e pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias.
É interessante notar que no homem, diferentemente do que ocorre no animal, a castração, após o alcance da fase adulta, não provoca o desaparecimento das respostas sexuais. Parece que no homem o sexo não é apenas resposta hormonal, mas também pensamento e sentimento.
As hormónas segregadas pela tiróide actuam sobre a actividade metabólica das células. O cretinismo (condição física e mental) é resultante do hipotiroidismo! Consequentemente, o hipertiroidismo pode provocar perturbações no crescimento do esqueleto. O nível de actividade de um organismo, a maior ou menos propensão à fadiga e o peso do corpo estão também relacionados ao funcionamento da tiróide.
A hipófise ou pituitária, compreende duas glândulas, a anterior e a posterior, com funções bem distintas.
A hipófiese posterior determina o ritmo e o controle da micção. A hipófise anterior, denominada glândula mestra, produz diferentes hormonas que além de influenciar no crescimento geral, regulam a actividade das demais glândulas.
Embora não haja uma relação directa entre a produção de hormonas e a personalidade do indivíduo, é evidente que o sistema endócrino desempenha destacada função em nossas motivações e emoções. Cada indivíduo tem o seu próprio padrão endócrino, assim, diferentes pessoas normais podem ter diferentes padrões endócrinos. (10)
Deve-se acrescentar que o sistema endócrino não é o único responsável pelo controle do comportamento. O sistema nervoso e o meio ambiente também devem ser considerados.

  

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(10) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 58


Mecanismo conector
É o sistema nervoso que estabelece a conexão entre receptores e efectores. Formado por vários bilhões de neurónios que têm na sua maioria a função de condutores, o sistema nervoso pode ser dividido, para fins de estudo, de diversas formas.
Uma maneira comumente usada, é dividi-lo em três grandes partes: sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autónomo.

3.2 – Sistema Nervoso
Para a melhor compreensão da subdivisão do sistema nervoso, dividimo-lo da seguinte forma:
 


                                                 Medula espinal
                                Central                          Bulbo raquidiano
                                                  Encéfalo     Protuberância anular
                                                                     Cerebelo
                                                                      Mesencéfalo
                                                                      Diencéfalo
                                                                       Telencéfalo
Sistema Nervoso                                 Conjunto de vias nervosas aferentes e eferentes fora do       
                                    Periférico         sistema nervoso central

 


                                                          Sistema Simpático
                                   Autónomo
                                                          Sistema Parassimpático


3.2.1 - Sistema Nervoso Central
A medula espinal e o encéfalo, envolvidos pela coluna vertebral e caixa craniana respectivamente, constituem o sistema nervoso central. Este sistema fornece fibras nervosas para todo o corpo (excepto as vísceras, que são inervadas pelo sistema nervoso autónomo).
A medula espinal estende-se da base do crânio à região sacra, até o cóccix. É uma via condutora de estímulos e respostas. Tais respostas podem partir do encéfalo ou dela mesma, como é o caso dos reflexos simples.
A medula tem, entre suas funções, as de controlo da micção, defecação, respiração e locomoção.
Assim, a ruptura acidental dos feixes nervosos da espinal medula implica um défice motor e sensorial que abrange as zonas do corpo abaixo da lesão: se a lesão ocorre na parte inferior da medula espinal, a pessoa deixa de poder andar, bem como controlar os intestinos e a bexiga. Se a lesão ocorre na parte superior da medula, a pessoa deixa de poder controlar os braços. A lesão da espinal medula é irreversível.
     http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/10/sistema-nervoso.gif
O encéfalo é, na verdade, uma massa integrada, única e grande, mas que pode ser dividida para fins descritivos em seis partes principais: bulbo raquidiano, protuberância anular, cerebelo, mesencéfalo, diencéfalo e telencéfalo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 59.
O encéfalo pesa cerca de 1,360kg no homem adulto e é maior na espécie humana, em proporção ao tamanho do corpo, do que em qualquer outro das espécies animais.

3.2.2 - Sistema Nervoso Periférico
O sistema nervoso periférico constitui-se por um conjunto de neurónios que vão dos receptores até a medula espinal e ao encéfalo (aferentes) e ao conjunto de neurónios que partem do sistema nervoso central e vão aos músculos e glândulas (eferentes).

3.2.3 - Sistema Nervoso Autónomo
O sistema nervoso autónomo é o responsável pela acção da musculatura e dos processos glandulares que de forma geral não estão sujeitos ao controlo voluntário.
Estruturalmente, o sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois: o simpático e o parassimpático.
A ramificação simpática actua durante os estados de excitação do organismo e age no sentido de dispender os recursos do organismo. Sua função, em geral, é preparar o organismo para situações de emergência como as de luta, medo ou fuga.
A ramificação parassimpática, pelo contrário, está em acção durante os estados de repouso, e visa conservar os recursos do organismo.
Alguns órgãos do corpo são activados por apenas uma destas duas ramificações, mas geralmente as estruturas abastecidas pelas fibras de uma delas também o são pelas de outra.
Em regra, as duas divisões funcionam de modo antagónico. Portanto, repara que numa situação de medo, a divisão simpática acelera o ritmo cardíaco, aumenta o nível de glicose no sangue, dilata os brônquios tornando a respiração mais rápida, dilata as artérias coronárias, provoca a vasoconstrição da pele, inibe a digestão, etc.
Compreendes agora melhor a origem de alguns sintomas que já experimentaste em situações de tensão: boca e garganta seca, coração a bater depressa, dores de barriga, etc.
Nos momentos de distensão, domina a divisão parassimpática: os batimentos do coração diminuem, ocorre a vasodilatação, que provoca um abaixamento da tensão arterial, dá-se a contracção dos brônquios, que torna a respiração mais lenta, estimula a digestão…
Na maior parte dos órgãos intervêm as duas divisões. Por exemplo: a divisão simpática acelera o ritmo cardíaco e a parassimpática diminui-o. É o funcionamento antagónico deste sistema que assegura o equilíbrio do meio interno do nosso organismo.
A figura abaixo, mostra o antagonismo funcional destas duas divisões do sistema nervos autónomo.
http://www.afh.bio.br/nervoso/img/SN%20aut%C3%B4nomo.gif























Elaborado por: Silvestre Galho

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