sexta-feira, 1 de junho de 2018

O PAPEL DOS PAIS E DA SOCIEDADE NA GARANTIA DO DESENVOLVIMENTO E BEM-ESTAR DAS CRIANÇAS

É a temática a ser abordada amanhã 01 de Junho de 2018 pelas 10h no programa Cuanza Norte em Movimento da Rádio Cuanza Norte.
Será uma forma de presentear um grande número de crianças.
Estamos em sintonia.

sexta-feira, 4 de maio de 2018



Reforço da relação Família, Comunidade e Escola: Normas de convivência na sociedade
A abordagem da temática ‘’reforço da relação família, comunidade e escola: normas de convivência na sociedade’’, remete-nos, primeiramente a análise dos conceitos de família, escola, comunidade.
Assim, entendemos a família como um grupo de pessoas, ligadas por laços consanguíneos ou não, que habitam juntas e mantêm uma relação baseada no afecto e ajuda mútua.
Escola é uma instituição de ensino público ou privado, vocacionada na transmissão do saber cultural sistematizado às novas gerações.
Comunidade é o conjunto de pessoas que vivem numa determinada área, sob um governo comum e que partilham uma herança cultural e histórica.
Importa-nos aqui referir que tanto a família quanto a escola, são dois contextos de desenvolvimento do indivíduo. Isto quer dizer que a família e a escola compartilham funções sociais, políticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam fortemente a formação integral do indivíduo e sua inserção na sociedade.
Segundo (Tavares, 1992), “o desenvolvimento da criança é o resultado de interacções complexas entre os diferentes sistemas ecológicos de que a criança é parte”, quer seja a família, a escola ou outras instituições. Neste sentido, todas as famílias têm aspectos contributivos para o desenvolvimento da criança, cabendo à escola reforçá-los. Isto leva-nos a afirmar que, quando há um envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, estes apresentam maior aproveitamento e desenvolvem melhor as suas capacidades intelectuais e comportamentais. Portanto, a escola deve manter sempre um diálogo vivo e permanente com todos os intervenientes no processo de formação e orientação dos alunos. Deste modo, Marques (1991 p. 68) afirma que “pais que se envolvem na educação dos próprios filhos e que comunicam de forma positiva com os professores, tendem a encarar o professor com mais simpatia e apreço”. A colaboração das famílias na escola constitui um factor fundamental para o desenvolvimento das crianças.
Segundo Sampaio, (1996) os pais, actualmente, estão extremamente ocupados, e não têm ‘’tempo’’ para dar atenção aos filhos, acabando muitas vezes por se esquecerem de que a escola não pode educar sem o apoio dos pais/encarregados de educação e precisa da ajuda e participação/cooperação da família para auxiliar os alunos a superarem as suas dificuldades e, assim, evoluírem de forma saudável. Desta forma, pode-se afirmar que a colaboração dos pais é de grande importância dentro da escola. Também é preciso salientar que a colaboração entre a família e a escola, por vezes, altera consoante os graus de ensino, as diferentes idades das crianças, como também as expectativas dos pais e dos professores e os seus objectivos.
Ficamos, assim, com a ideia presente que valorizar e estimular os pais à participação, bem como desenvolver estratégias de colaboração/cooperação envolvendo a família, as crianças, a escola e também a comunidade em que se está inserido, poderá ser ― a linha orientadora para ajudar todas as crianças a desenvolverem-se e a integrarem-se na sociedade da qual fazem parte por inerência de vida.
A relação escola – família – comunidade será melhor se a escola abrir as suas portas à família e à comunidade, dando-lhes espaço e oportunidade para participarem de forma activa no processo de ensino e aprendizagem. Assim, ao participarem/envolverem estarão a velar pelos seus interesses e dos seus filhos (e de alguma forma contribuir para uma melhor sociedade).
A parceria/escola família implica a noção de educação inclusiva e participação por todos os agentes educativos. Deverá, assim, haver um envolvimento efectivo entre a escola e a família, de modo a haver um maior conhecimento, compreensão e acompanhamento.

Tipos de participação e envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos
Segundo Lima (1992), existem três tipos de participação: a participação activa, em que há uma postura de grande envolvimento, por parte dos pais, na organização individual e colectiva; a participação reservada, em que os pais têm uma actividade menos voluntária aguardando a tomada de decisões; e a participação passiva, em que há comportamentos e atitudes por parte da família de desinteresse, falta de informação e apatia.

Vantagens da participação e envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos
Entendemos, por exemplo, que o envolvimento dos pais na vida escolar dos educandos aumenta a motivação dos mesmos pelo estudo, ajuda os pais a compreenderem o esforço que é feito pelos professores e ajuda os pais a desempenharem os seus papéis (Marques, 2001). Assim, o envolvimento familiar faz com que o trabalho do professor seja mais facilitado, uma vez que comunicação entre os pais e os professores será mais positiva.
            Partilhamos da opinião de Alves e Leite (2005), de que ‘’A cooperação escola – família – comunidade exige vontade, tempo, perseverança (…) é uma das condições essenciais para que os processos de ensino e de aprendizagem sejam mais ricos (…) para que sejam melhores os resultados dos alunos’’.

Dicas para promover a relação escola-família
1.      Em primeiro lugar, é fundamental melhorar/aperfeiçoar o domínio comunicacional. Ou seja, é crucial que os professores utilizem uma linguagem acessível a todos;
2.      É importante que as escolas marquem as reuniões com os pais e encarregados de educação para depois das 16 horas, facilitando a comparência de todos, visto que muitos pais e encarregados de educação são funcionários públicos ou têm outras ocupações;
3.      As escolas devem criar um espaço adequado para receberem os pais/encarregados de educação;
4.      As escolas devem introduzir novos instrumentos de comunicação como o telefone ou através de visitas domiciliárias, principalmente para os pais mais ausentes, criar equipas que façam a ponte entre a escola e a família (psicólogo, sociólogo, assistente social, pais voluntários, etc).
5.      As escolas devem incentivar os pais/encarregados de educação a reponderem questionários sobre o funcionamento da escola e o progresso de seus filhos.

Obstáculos na relação escola-família
Na perspetiva de Marques (2001), pode-se considerar quatro tipos de obstáculos: a tradição de separação entre a família e escola; a culpabilização dos pais pelas dificuldades inerentes dos educandos, as estruturas familiares e os constrangimentos culturais.
A relação que existe entre a família e a escola sempre foi um “assunto polémico”, uma vez que a escola culpa os pais pela “ignorância passiva” e por outro lado, a família culpa os professores por “hostilizarem as perceções” dos mesmos.
Para além disso, segundo Sarmento e Marques (2002, p. 32), esta influência já vem de há alguns anos atrás, uma vez que “a educação era, assim, monopólio da escola e do poder centralizado e andava de costas voltadas a tudo o que acontecia na comunidade”.
Segundo Marques (2001), outro obstáculo ao envolvimento dos pais na escola, é o receio dos professores que esse envolvimento se transforme num instrumento de controlo das suas práticas pedagógicas.
Aliado a este facto, estão as expetativas dos professores face às famílias, tendo em conta um modelo ideal de família, pois estes esperam que as mesmas compreendam a funcionalidade da escola, facilitando assim a participação. Contudo, este factor leva a que os outros pais sejam vistos como desinteressados pela vida escolar dos educandos.
Para Davies (1989), a classe social das famílias dificulta o processo de envolvimento dos pais.
Muitos são os pais que geralmente são da opinião que é responsabilidade da escola educar os filhos, encarregando o professor para esse papel, descartando-se da responsabilidade de serem os primeiros e permanentes educadores (Sousa e Sarmento, 2010).
Outra barreira para uma relação escola-família positiva, é a forma como as escolas funcionam e estão organizadas, ou seja, pela sua forma rígida e centralizada de intervir. Esta barreira potencia a “desadequação dos espaços e dos horários de atendimento aos pais; a falta de um espaço gerido por estes, onde se possam encontrar informalmente e planificar a sua intervenção; a falta de formação especializada dos professores, sobretudo dos diretores de turma, para se relacionarem com as famílias e as comunidades; o uso de uma linguagem demasiado técnica e codificada; o pendor altamente burocrático do seu funcionamento e o ‘fechamento’ à intervenção, opinião e crítica externa” (Sousa e Sarmento, 2010, p.151).

Conclusão
Podemos concluir que a família é um pilar de extrema importância na educação de uma Nação, e a sua relação com a escola encontra-se ligada às mudanças sociais. Portanto, se não existirem famílias bem constituídas, nem escolas bem organizadas, não se encontrarão pessoas civilizadas.
Concluímos também que a educação da criança compete não só aos professores, mas a todos aqueles que são modelos de vida social, sendo assim, a família tem de estar incluída nos processos educativos, esta tem como função completar a escola.
Reiteramos que, a educação que parte de casa deve ser tida em conta, uma vez que as atitudes e comportamentos dos nossos alunos são em grande medida o reflexo das aprendizagens adquiridas em casa. Por isso, as instituições devem incentivar as famílias a participarem em actividades que possibilitem a educação dos alunos.
Os pais têm de compreender os filhos, a nível dos comportamentos e atitudes, o que muitas das vezes não acontece devido à correria do dia-a-dia, os pais ao compreenderem os filhos devem dialogar com os professores de modo a, em conjunto, solucionar os problemas dos educandos.
Nos processos de ensino e aprendizagem, o docente tem de ter em atenção as origens da criança, os antecedentes e, para que isso aconteça é necessário haver contacto com a família. É necessário começar a promover a interacção dos pais com a escola desde o jardim-de-infância, visto que o primeiro contacto social da criança é com a família, as primeiras aprendizagens dão-se no seio da família. A família é a primeira fonte de influência, influencia o comportamento, as emoções e a ética da criança.

Referências bibliográficas
ABREU, Andrade Ana Cristina. (2012) – A importância da cooperação entre a escola e família - Um Estudo de Caso. Instituto Politécnico de Castelo Branco
ABREU, Casanova Daniela Sofia. (2016) – A relação escola-família como potenciadora do sucesso educativo. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti. Porto Psicólogos
LIMA, L. (1992), A escola como organização e a participação na organização escolar. Braga: Universidade do Minho.
MARQUES, R. (1991), A direção de turma: integração escolar e ligação ao meio. Lisboa: Texto Editora.
MARQUES, R. (2001). Educar com os pais. Lisboa: Editorial Presença.

Webgrafia


quarta-feira, 28 de março de 2018

Capítulo III – TIPOS DE ESTUDOS EMPREENDIDOS EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

Silvestre
Galho
2018


Capítulo III – TIPOS DE ESTUDOS EMPREENDIDOS EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
No presente capítulo, abordaremos as questões de carácter metodológico (métodos e técnicas) relevantes para as pesquisas em desenvolvimento.
Para falarmos dos métodos e das técnicas de investigação em Psicologia do Desenvolvimento, devemos no entanto, lembrar-lhe que a investigação nesta área do conhecimento pode ser feita, fazendo uso de um conjunto de recursos tais como: observação sistemática, métodos psicofisiológicos, questionários, estudo de caso, descrições etnográficas, etc.


Observação sistemática: (um dos métodos objectivos proposto pelos Behavioristas). Assim, a utilização deste método, permite-nos registar os comportamentos tal como ocorrem num contexto natural, como por exemplo na escola durante o intervalo, no local de trabalho, ou até mesmo no ambiente familiar. Também podem ser feitas observações em situações estruturadas, como por exemplo, quando pedimos a um pai que leia uma história ao filho. As autoras Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo in Psicologia da Educação, Volume 2, p. 39, argumentam que apesar de se considerar que as observações estruturadas são típicas de um contexto laboratorial, os argumentos da perspectiva ecológica conduziram os psicólogos do desenvolvimento à realização destas observações nos contextos em que os comportamentos, que são alvo de estudo, ocorrem (por exemplo, a casa, a escola, o local de trabalho). Para este facto, contribuíram também os avanços tecnológicos que permitem a utilização de técnicas cada vez mais sofisticadas de gravação audiovisual.


Métodos psicofisiológicos: permitem explorar as relações existentes entre os aspectos de ordem psicológica e biológica num organismo, analisando em que medida uma dada situação (por exemplo a saída da mãe da sala em que se encontrava com o filho) se traduz em reacções fisiológicas quantificáveis (a temperatura do rosto da criança pode ser um indicador do seu estado emocional). Alguns dos parâmetros fisiológicos mais utilizados são a actividade cerebral e o ritmo cardíaco (in Palacios, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p.40.

Questionários: é mais uma técnica do que um método propriamente dito. E, com esta técnica pretende-se que os sujeitos respondam a uma série de perguntas ordenadas de acordo com um determinado objectivo e com um grau diferente de estandardização, de estruturação interna e de categorização das respostas. Habitualmente, um questionário pode ser administrado verbalmente, à crianças mais novas, ou por escrito aos mais velhos ou aos que dominam a escrita.

Estudo de caso: este método, trata da análise de casos individuais nos quais os aspcetos de carácter qualitativo e idiossincrático são considerados fundamentais.
Habitualmente, são analisados vários casos individuais que representam circunstâncias diferentes que interessa comparar.

Descrições etnográficas: herdada dos antropólogos, este método implica uma observação participante (como por exemplo, participar activamente numa aula, passar um dia com uma família), a realização de registos no momento e a sua elaboração posterior no sentido de compor um quadro impressionista cujas pinceladas são os fragmentos da observação.
De acordo com Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Opcit. p. 42, o método de experimentação é, dentre os métodos de pesquisa, o que oferece o mais alto grau de certeza na conclusão, dadas as condições de controle. Mas, lembramos também que a informação obtida através de qualquer método ou técnica, pode ser analisada com o recurso a uma diversidade de estratégias, das mais qualitativas às mais quantitativas. No entanto, o que confere a uma pesquisa um carácter desenvolvimental é a utilização de desenhos de investigação, nos quais a variável idade desempenhe um papel organizador. Neste sentido, podem referir-se essencialmente, dois tipos de estudos do desenvolvimento que se apresentam de seguida.

Os estudos longitudinais
Nos estudos longitudinais, estudam-se os mesmos sujeitos ao longo de um tempo longo, com o objectivo de analisar de que forma evoluem as características que são alvo de estudo. Este tipo de estudo é o único que permite analisar as modificações intra-individuais, isto é, de que forma um determinado sujeito se modifica ao longo do tempo. À medida que uma recolha de dados se distancia da seguinte, surgem problemas relacionados com a mortalidade experimental, isto é, perdem-se sujeitos, por exemplo, que mudam de residência ou que deixam de querer participar no estudo. Este facto pode ser prejudicial para a investigação, uma vez que pode acarretar uma menor representatividade da amostra de estudo relativamente ao conjunto da população (se a representatividade constituía uma das intenções do estudo). Se as recolhas de dados forem muito distanciadas, o estudo torna-se, também, mais caro e a continuidade da equipa de investigação pode encontrar-se ameaçada (in Palacios, 1995, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Psicologia da Educação, p. 41.

Os estudos transversais
Nos estudos transversais, estudam-se simultaneamente e em um curto espaço de tempo, sujeitos de idades diferentes, com o objectivo de analisar as diferenças relacionadas com a idade, nas características que interessam o estudo. Contudo, este tipo de estudo não permite realizar um acompanhamento rigoroso das modificações intra-individuais, permitindo, no entanto, em pouco tempo, formar ideias acerca das principais modificações relacionadas com a idade. Assim, os estudos transversais tornam-se mais rápidos e económicos. No sentido de as modificações relacionadas com a idade ficarem bem documentadas, torna-se necessário utilizar amostras de sujeitos com idades diferentes, mas que sejam semelhantes nos restantes aspectos (por exemplo, em termos socioculturais).

 Tipos de estudos longitudinais e transversais
Tanto os estudos longitudinais como os transversais podem ser simples ou sequenciais. Nos estudos simples, apenas uma geração se encontra envolvida na pesquisa; por exemplo, num estudo longitudinal simples, são estudados repetidamente sujeitos nascidos em 1960, desde os 10 até aos 40 anos. Num estudo transversal simples, sujeitos de idades diferentes são estudados num mesmo ano (in Palacios, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p. 41.
No sentido de se salientar a influência que os factores histórico-sociais têm no desenvolvimento, os autores que se enquadram numa perspectiva do ciclo de vida, já referida anteriormente, reforçam a importância do conceito de geração na pesquisa do desenvolvimento. Cada geração é definida, não por intervalo fixo de tempo, mas pelo facto de as pessoas nascidas num determinado ano, por exemplo, terem sofrido uma influência diferente da sofrida pelas pessoas noutro ano (por exemplo, uma crise económica, uma convulsão política, um conflito armado, uma catástrofe natural, etc.). Assim, se pretendermos analisar o efeito dessa influência no desenvolvimento, ter-se-á que comparar dois grupos, os que receberam a influência e os que não receberam. Uma investigação em que são introduzidas duas gerações é denominada sequencial. Num estudo sequencial longitudinal, os mesmos sujeitos, de cada uma das gerações, são estudados ao longo do tempo. Num estudo sequencial transversal, são considerados dois grupos de sujeitos que correspondem a duas amostras diferentes em termos de geração a que pertencem, isto é, um grupo de sujeitos que foi afectado por uma influência histórica e um grupo que não sofreu essa influência (in Palacios, 1995, 1999), citado por Manuela Pessanha, Sílvia Barros, Ruth Sampaio, Carla Serrão, Sofia Veiga e Sérgio Costa Araújo. Opcit, p. 42.


Elaborado por: Silvestre Galho

Capítulo II – CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

Silvestre
Galho
2018
Capítulo II – CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
Tal como acontece com todos os seres humanos, começaste a andar por volta de 1 ano de idade, a falar com cerca de 2 anos. Brincaste com os teus colegas de escola e na puberdade sofreste um conjunto de modificações orgânicas. Na adolescência vais-te tornando cada vez mais autónomo, mas outros períodos te esperam: serás adulto, serás velho.
Neste teu processo desenvolveste-te como todos os outros indivíduos, percorrendo um caminho comum. Mas também é verdade que te desenvolveste como nenhum outro ser humano. Vives num determinado contexto social, estabeleces relações com determinadas pessoas, fazes parte de uma determinada família, o que torna a tua evolução única.
Esta situação contraditória – tens muito de comum com os outros, tens muito de diferente relativamente aos outros – é reveladora da complexidade do desenvolvimento.
De uma maneira geral, o desenvolvimento é um processo que inicia na concepção e só termina com a morte. O termo desenvolvimento quer dizer evolução, progresso, movimento, mudança, crescimento.
Ao estudarmos o desenvolvimento, podemos nos fixar na parte biológica, emocional, intelectual ou na parte social. O desenvolvimento não é independente do social, e este não está separado do intelectual. Em suma, todos estão relacionados. O ser humano é uma unidade e nada acontece isoladamente.
A questão que se coloca é:

O que é o desenvolvimento?
O desenvolvimento é o conceito que se refere ao conjunto de transformações sistemáticas do ser humano ao longo da sua vida. É um processo que se inicia no momento da concepção e termina com a morte, e em que estão envolvidos múltiplos factores: biológicos, cognitivos, motores, morais, emocionais, linguísticos, afectivos, sociais, etc.
As modificações que se produzem são estruturais e comportamentais, isto é, ao longo do tempo o organismo muda, assim como mudam também a nossa maneira de actuar, agir, pensar sentir. Estas mudanças não se produzem de igual modo em todos os indivíduos: o ritmo do desenvolvimento varia de pessoa para pessoa, podendo ocorrer acelerações e retardamentos.

Por que o desenvolvimento acontece?
O desenvolvimento acontece porque o ser humano é um sistema aberto, isto é, está em constante interacção dinâmica com o meio ambiente. É todo o corpo, toda a estrutura biológica que se modifica ao longo da vida, numa permanente troca/interacção com as várias dimensões do meio natural, social e cultural. O ser humano interage com o meio envolvente: o meio natural e a família, os amigos, o grupo de vizinhança, a escola, a comunidade, etc.
Existem contextos, situações, acontecimentos, acasos que influenciam activamente os
percursos da nossa vida: a mudança de terra e de casa, a doença, a morte de uma pessoa
querida, o nascimento de um filho, o divórcio, etc. Estas transições-acontecimentos,
ocorrências e mudanças implicam a pessoa globalmente nas respostas que irá dar, nas
mudanças internas vivenciadas, quer seja criança, adolescente, adulto ou velho.

O debate do Inato Vs Adquirido
Hoje, considera-se infrutífera a defesa da posição estanque entre o biológico e o social,
entre o inato e o adquirido. A dinâmica entre o organismo e o meio é uma realidade – o
indivíduo é uma unidade biopsicossocial. As capacidades internas necessitam de um meio
externo estruturante que lhes permita a sua realização. Além disso, é difícil ou até mesmo
quase impossível adquirir aprendizagens de uma forma precoce sem que haja uma capacidade
interna para essa aquisição. Assim, por exemplo, são inúteis os esforços para se ensinar um
bebé de seis (6) meses a andar ou a falar.
Uma questão que se pode levantar é a do problema da existência ou não de períodos
críticos, isto é, de etapas limitadas de tempo durante as quais o organismo é sensível à
estimulação do meio. Se, como já foi dito, algumas aprendizagens não são possíveis (ou sãono
deficientes) se ultrapassarem-se esses períodos. É comum dar-se o exemplo de crianças
selvagens que, não tendo sido familiarizadas com a linguagem, não conseguem adquirir essa
capacidade por terem ultrapassado determinada idade.
A investigação em psicologia do desenvolvimento recorre não só a outros ramos da
psicologia como a outras áreas científicas: à biologia genética, à etologia, à história, à
antropologia.
O significado do termo desenvolvimento tem suscitado acesos debates entre os
pesquisadores das mais variadas áreas do saber (filósofos e teóricos). Mas, apesar de existirem
pontos de vista diferentes em torno do conceito, verifica-se algum consenso, sobretudo no que
concerne as características que definem o conceito de desenvolvimento (Manuela, Pessanha;
Sílvia, Barros et all. 2010, p. 32).
Segundo Lerner (2002: 16), citado por Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010,
p. 33, no seu sentido mais lato, o desenvolvimento refere-se a modificação. No entanto,
‘’modificação’’ e ‘’desenvolvimento’’ não são termos equivalentes, isto porque apesar de o
desenvolvimento implicar modificação, nem todas as modificações implicam
desenvolvimento. Assim, de modo a serem consideradas relativas a desenvolvimento, estas
modificações deverão ser sistemáticas, organizadas e sucessivas, o que significa que as
modificações observadas num momento posterior deverão ser influenciadas, pelo menos em
parte, pelas modificações ocorridas num momento anterior. Em resumo, o conceito de
desenvolvimento implica modificações sistemáticas e sucessivas que ocorrem numa
organização ao longo do tempo.
No mesmo sentido, e no âmbito da teoria bioecológica, Bronfenbrenner, define
desenvolvimento como o fenómeno da continuidade e da modificação nas características
biopsicológicas dos seres humanos, tanto enquanto indivíduos como enquanto grupos.
Tal como referem Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010, p. 33, a compreensão
completa do desenvolvimento humano só poderá ser alcançada através da integração da
filosofia, da teoria, dos métodos e dos resultados da investigação realizada nesta área
particular do conhecimento.
Em outras palavras, podemos dizer que o conceito de desenvolvimento remete-nos
para as teorias do desenvolvimento que serão abordadas a seguir.


Elaborado por: Silvestre Galho

terça-feira, 27 de março de 2018

Capítulo II – CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
Tal como acontece com todos os seres humanos, começaste a andar por volta de 1 ano de idade, a falar com cerca de 2 anos. Brincaste com os teus colegas de escola e na puberdade sofreste um conjunto de modificações orgânicas. Na adolescência vais-te tornando cada vez mais autónomo, mas outros períodos te esperam: serás adulto, serás velho.
Neste teu processo desenvolveste-te como todos os outros indivíduos, percorrendo um caminho comum. Mas também é verdade que te desenvolveste como nenhum outro ser humano. Vives num determinado contexto social, estabeleces relações com determinadas pessoas, fazes parte de uma determinada família, o que torna a tua evolução única.
Esta situação contraditória – tens muito de comum com os outros, tens muito de diferente relativamente aos outros – é reveladora da complexidade do desenvolvimento.
De uma maneira geral, o desenvolvimento é um processo que inicia na concepção e só termina com a morte. O termo desenvolvimento quer dizer evolução, progresso, movimento, mudança, crescimento. 4
Ao estudarmos o desenvolvimento, podemos nos fixar na parte biológica, emocional, intelectual ou na parte social. O desenvolvimento não é independente do social, e este não está separado do intelectual. Em suma, todos estão relacionados. O ser humano é uma unidade e nada acontece isoladamente.
O desenvolvimento é o conceito que se refere ao conjunto de transformações sistemáticas do ser humano ao longo da sua vida. É um processo que se inicia no momento da concepção e termina com a morte, e em que estão envolvidos múltiplos factores: biológicos, cognitivos, motores, morais, emocionais, linguísticos, afectivos, sociais, etc.
As modificações que se produzem são estruturais e comportamentais, isto é, ao longo do tempo o organismo muda, assim como mudam também a nossa maneira de actuar, agir, pensar sentir. Estas mudanças não se produzem de igual modo em todos os indivíduos: o ritmo do desenvolvimento varia de pessoa para pessoa, podendo ocorrer acelerações e retardamentos.
O desenvolvimento acontece porque o ser humano é um sistema aberto, isto é, está em constante interacção dinâmica com o meio ambiente. É todo o corpo, toda a estrutura biológica que se modifica ao longo da vida, numa permanente troca/interacção com as várias dimensões do meio natural, social e cultural. O ser humano interage com o meio envolvente: o meio natural e a família, os amigos, o grupo de vizinhança, a escola, a comunidade, etc.
____________________________________
(4) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral 33ª ed. p. 163
Capítulo II – Conceito de Desenvolvimento
8
Silvestre
Galho
2017
Existem contextos, situações, acontecimentos, acasos que influenciam activamente os
percursos da nossa vida: a mudança de terra e de casa, a doença, a morte de uma pessoa
querida, o nascimento de um filho, o divórcio, etc. Estas transições-acontecimentos,
ocorrências e mudanças implicam a pessoa globalmente nas respostas que irá dar, nas
mudanças internas vivenciadas, quer seja criança, adolescente, adulto ou velho.
Hoje, considera-se infrutífera a defesa da posição estanque entre o biológico e o social,
entre o inato e o adquirido. A dinâmica entre o organismo e o meio é uma realidade – o
indivíduo é uma unidade biopsicossocial. As capacidades internas necessitam de um meio
externo estruturante que lhes permita a sua realização. Além disso, é difícil ou até mesmo
quase impossível adquirir aprendizagens de uma forma precoce sem que haja uma capacidade
interna para essa aquisição. Assim, por exemplo, são inúteis os esforços para se ensinar um
bebé de seis (6) meses a andar ou a falar 5.
Uma questão que se pode levantar é a do problema da existência ou não de períodos
críticos, isto é, de etapas limitadas de tempo durante as quais o organismo é sensível à
estimulação do meio. Se, como já foi dito, algumas aprendizagens não são possíveis (ou sãono
deficientes) se ultrapassarem-se esses períodos. É comum dar-se o exemplo de crianças
selvagens que, não tendo sido familiarizadas com a linguagem, não conseguem adquirir essa
capacidade por terem ultrapassado determinada idade.
A investigação em psicologia do desenvolvimento recorre não só a outros ramos da
psicologia como a outras áreas científicas: à biologia genética, à etologia, à história, à
antropologia.
O significado do termo desenvolvimento tem suscitado acesos debates entre os
pesquisadores das mais variadas áreas do saber (filósofos e teóricos). Mas, apesar de existirem
pontos de vista diferentes em torno do conceito, verifica-se algum consenso, sobretudo no que
concerne as características que definem o conceito de desenvolvimento (Manuela, Pessanha;
Sílvia, Barros et all. 2010, p. 32).
Segundo Lerner (2002: 16), citado por Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010,
p. 33, no seu sentido mais lato, o desenvolvimento refere-se a modificação. No entanto,
‘’modificação’’ e ‘’desenvolvimento’’ não são termos equivalentes, isto porque apesar de o
desenvolvimento implicar modificação, nem todas as modificações implicam
desenvolvimento. Assim, de modo a serem consideradas relativas a desenvolvimento, estas
modificações deverão ser sistemáticas, organizadas e sucessivas, o que significa que as
modificações observadas num momento posterior deverão ser influenciadas, pelo menos em
parte, pelas modificações ocorridas num momento anterior. Em resumo, o conceito de
desenvolvimento implica modificações sistemáticas e sucessivas que ocorrem numa
organização ao longo do tempo.

Silvestre
Galho
2017
No mesmo sentido, e no âmbito da teoria bioecológica, Bronfenbrenner, define
desenvolvimento como o fenómeno da continuidade e da modificação nas características
biopsicológicas dos seres humanos, tanto enquanto indivíduos como enquanto grupos.
Tal como referem Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010, p. 33, a compreensão
completa do desenvolvimento humano só poderá ser alcançada através da integração da
filosofia, da teoria, dos métodos e dos resultados da investigação realizada nesta área
particular do conhecimento.
Em outras palavras, podemos dizer que o conceito de desenvolvimento remete-nos
para as teorias do desenvolvimento que serão abordadas a seguir.
Capítulo II – CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
Tal como acontece com todos os seres humanos, começaste a andar por volta de 1 ano de idade, a falar com cerca de 2 anos. Brincaste com os teus colegas de escola e na puberdade sofreste um conjunto de modificações orgânicas. Na adolescência vais-te tornando cada vez mais autónomo, mas outros períodos te esperam: serás adulto, serás velho.
Neste teu processo desenvolveste-te como todos os outros indivíduos, percorrendo um caminho comum. Mas também é verdade que te desenvolveste como nenhum outro ser humano. Vives num determinado contexto social, estabeleces relações com determinadas pessoas, fazes parte de uma determinada família, o que torna a tua evolução única.
Esta situação contraditória – tens muito de comum com os outros, tens muito de diferente relativamente aos outros – é reveladora da complexidade do desenvolvimento.
De uma maneira geral, o desenvolvimento é um processo que inicia na concepção e só termina com a morte. O termo desenvolvimento quer dizer evolução, progresso, movimento, mudança, crescimento. 4
Ao estudarmos o desenvolvimento, podemos nos fixar na parte biológica, emocional, intelectual ou na parte social. O desenvolvimento não é independente do social, e este não está separado do intelectual. Em suma, todos estão relacionados. O ser humano é uma unidade e nada acontece isoladamente.
O desenvolvimento é o conceito que se refere ao conjunto de transformações sistemáticas do ser humano ao longo da sua vida. É um processo que se inicia no momento da concepção e termina com a morte, e em que estão envolvidos múltiplos factores: biológicos, cognitivos, motores, morais, emocionais, linguísticos, afectivos, sociais, etc.
As modificações que se produzem são estruturais e comportamentais, isto é, ao longo do tempo o organismo muda, assim como mudam também a nossa maneira de actuar, agir, pensar sentir. Estas mudanças não se produzem de igual modo em todos os indivíduos: o ritmo do desenvolvimento varia de pessoa para pessoa, podendo ocorrer acelerações e retardamentos.
O desenvolvimento acontece porque o ser humano é um sistema aberto, isto é, está em constante interacção dinâmica com o meio ambiente. É todo o corpo, toda a estrutura biológica que se modifica ao longo da vida, numa permanente troca/interacção com as várias dimensões do meio natural, social e cultural. O ser humano interage com o meio envolvente: o meio natural e a família, os amigos, o grupo de vizinhança, a escola, a comunidade, etc.
____________________________________
(4) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral 33ª ed. p. 163
Capítulo II – Conceito de Desenvolvimento
8
Silvestre
Galho
2017
Existem contextos, situações, acontecimentos, acasos que influenciam activamente os
percursos da nossa vida: a mudança de terra e de casa, a doença, a morte de uma pessoa
querida, o nascimento de um filho, o divórcio, etc. Estas transições-acontecimentos,
ocorrências e mudanças implicam a pessoa globalmente nas respostas que irá dar, nas
mudanças internas vivenciadas, quer seja criança, adolescente, adulto ou velho.
Hoje, considera-se infrutífera a defesa da posição estanque entre o biológico e o social,
entre o inato e o adquirido. A dinâmica entre o organismo e o meio é uma realidade – o
indivíduo é uma unidade biopsicossocial. As capacidades internas necessitam de um meio
externo estruturante que lhes permita a sua realização. Além disso, é difícil ou até mesmo
quase impossível adquirir aprendizagens de uma forma precoce sem que haja uma capacidade
interna para essa aquisição. Assim, por exemplo, são inúteis os esforços para se ensinar um
bebé de seis (6) meses a andar ou a falar 5.
Uma questão que se pode levantar é a do problema da existência ou não de períodos
críticos, isto é, de etapas limitadas de tempo durante as quais o organismo é sensível à
estimulação do meio. Se, como já foi dito, algumas aprendizagens não são possíveis (ou sãono
deficientes) se ultrapassarem-se esses períodos. É comum dar-se o exemplo de crianças
selvagens que, não tendo sido familiarizadas com a linguagem, não conseguem adquirir essa
capacidade por terem ultrapassado determinada idade.
A investigação em psicologia do desenvolvimento recorre não só a outros ramos da
psicologia como a outras áreas científicas: à biologia genética, à etologia, à história, à
antropologia.
O significado do termo desenvolvimento tem suscitado acesos debates entre os
pesquisadores das mais variadas áreas do saber (filósofos e teóricos). Mas, apesar de existirem
pontos de vista diferentes em torno do conceito, verifica-se algum consenso, sobretudo no que
concerne as características que definem o conceito de desenvolvimento (Manuela, Pessanha;
Sílvia, Barros et all. 2010, p. 32).
Segundo Lerner (2002: 16), citado por Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010,
p. 33, no seu sentido mais lato, o desenvolvimento refere-se a modificação. No entanto,
‘’modificação’’ e ‘’desenvolvimento’’ não são termos equivalentes, isto porque apesar de o
desenvolvimento implicar modificação, nem todas as modificações implicam
desenvolvimento. Assim, de modo a serem consideradas relativas a desenvolvimento, estas
modificações deverão ser sistemáticas, organizadas e sucessivas, o que significa que as
modificações observadas num momento posterior deverão ser influenciadas, pelo menos em
parte, pelas modificações ocorridas num momento anterior. Em resumo, o conceito de
desenvolvimento implica modificações sistemáticas e sucessivas que ocorrem numa
organização ao longo do tempo.
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(5) Manuela Matos Monteiro e Milice Ribeiro dos Santos, Opcit, p. 13
Capítulo II – Conceito de Desenvolvimento
9
Silvestre
Galho
2017
No mesmo sentido, e no âmbito da teoria bioecológica, Bronfenbrenner, define
desenvolvimento como o fenómeno da continuidade e da modificação nas características
biopsicológicas dos seres humanos, tanto enquanto indivíduos como enquanto grupos.
Tal como referem Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010, p. 33, a compreensão
completa do desenvolvimento humano só poderá ser alcançada através da integração da
filosofia, da teoria, dos métodos e dos resultados da investigação realizada nesta área
particular do conhecimento.
Em outras palavras, podemos dizer que o conceito de desenvolvimento remete-nos
para as teorias do desenvolvimento que serão abordadas a seguir.

Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

Silvestre
Galho
2018
Capítulo I – FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS
1 – Origem da Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

É muito antiga a preocupação da humanidade com a natureza da criança e com a marcha do seu desenvolvimento. Assim, filósofos, médicos, linguistas e tantos outros pensadores do passado, tiveram sua atenção atraída pela natureza da criança.
O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), considerado o ‘’descobridor da criança’’, foi o verdadeiro iniciador dos estudos do desenvolvimento. Em 1762, foi publicado o seu célebre livro, Emílio. Nesse romance, em vários volumes, Rousseau descreve a infância e o desenvolvimento de uma criança imaginária, criada por um sábio preceptor em contacto com a natureza. Através de Emílio – o personagem em questão, Rousseau tenta uma descrição dos estágios pelos quais a criança vai passando, do nascimento à puberdade. Procura dessa maneira descobrir como a natureza leva a criança a desenvolver-se ‘’em suas faculdades e em seus órgãos’’.
No prefácio desse romance pedagógico, Rousseau cogita, pela primeira vez, na necessidade de ‘’estudar a criança antes de querer educá-la’’. São suas as palavras: ‘’Começai por estudar vossos alunos, pois é bem certo que não os conheceis’’.
Em 1770, o professor suíço Johann Heinrich Pestalozzi começou a escrever, sob a forma de diário, as observações que ia fazendo do desenvolvimento diário de seu filhinho. 1 Em 1787, na Alemanha, Deitrich Tiedemann publicou a primeira observação sistemática da evolução mental da criança. Esse trabalho consistia nas observações que Tiedemann colheu de seu filho, desde o nascimento até aos 3 anos de idade.
Dos registos de observações de crianças, feitos sob a forma de diários, o mais conhecido é o de Guilherme T. Preyer, publicado em 1881, sob o título A alma da criança.
Além desses registos gerais sobre as actividades da criança, apareceram, por vezes, diários parciais em que não se regista o desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos, mas apenas em um, como o progresso no desenho, na linguagem etc. Por exemplo, Georges Henri Luquet publicou O desenho de uma criança, que era uma colecção dos desenhos de sua filha Simone, até a idade de 10 anos, acompanhada da explicação do seu desenvolvimento.
Além de filósofos e médicos, outros especialistas (biólogos, linguistas, e criminalistas)
deram também valiosas contribuições ao estudo da criança.
A partir dessas tentativas, raras e isoladas, constituiu-se o acervo de estudos que temos
hoje sobre a criança e seu desenvolvimento. 2
A psicologia do desenvolvimento automatiza-se como ramo da psicologia geral nos
finais do século XIX, sendo marcada por grandes avanços até aos nossos dias. Acompanhou a
evolução da ciência e das transformações socioeconómicas, bem como das representações
sociais do que é ser criança.
Até Rousseau, no século XVIII, a infância não era perspectivada como um período de
desenvolvimento diferenciado, com especificidade própria. As crianças eram encaradas como
adultos em miniatura, o que se reflecte na literatura e na pintura de várias culturas e épocas.
O historiador Philippe Ariès, nos anos 60, afirmou que na sociedade medieval não
existia um «sentimento de infância nem de adolescência». Considera que não existia distinção
de tipos de actividades, divertimentos e até de trabalho entre os mais novos e os adultos. A
adolescência como estádio específico define-se com a industrialização, no século XIX.
No século XIX, Charles Darwin, ao estudar as semelhanças e as diferenças entre o
animal e o ser humano, evidenciou o papel da evolução e chamou a atenção para que se
fizessem estudos sobre a infância.
Outro aspecto importante na história da psicologia do desenvolvimento ocorre no
século XX, por muitos considerado o século dos direitos humanos, em que são consignados os
direitos da criança. No processo de automatização da psicologia do desenvolvimento,
também não será alheia a evolução da medicina e da pedagogia.
As transformações na nossa forma de pensar, interagem com as transformações na
organização social e familiar. Estas mudanças acarretam práticas educativas diferentes, um
papel e um estatuto da criança e do adolescente no interior da família, assim como aumentam
as responsabilidades sociais, como as creches, os jardins-de-infância, as escolas de diferentes
graus de ensino, bem como a ocupação organizada dos tempos livres, têm tido uma grande
influência na divisão e separação etária, bem como nas actividades consideradas adaptadas às
diferentes etapas.
Hoje, muito se investe e se joga na criança e no jovem. É, contudo, de relevar as
grandes diferenças existentes entre as crianças, relacionadas com factores pessoais,
socioculturais, económicos e geográficos. Muito há de comum e de divergente nas crianças e
adolescentes de uma sociedade rica e avançada e, por exemplo, de um país em guerra.

Objecto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento
O objecto da psicologia do desenvolvimento é o próprio ser humano em
permanente evolução, analisando as várias etapas da vida (infância, adolescência,
juventude, fase adulta e velhice) do desenvolvimento dos processos biológicos e psicológicos
nas relações interactivas da pessoa e do meio.
Importa-nos aqui recordar que, ainda que durante muito tempo a Psicologia do
Desenvolvimento se tenha ocupado dos processos que ocorrem apenas durante a infância e a
adolescência, os psicólogos mais recentes têm vindo a aceitar progressivamente que o seu
objecto de estudo é toda a vida do ser humano e os processos de modificação psicofisiológica
que nela ocorrem. E, Manuela, Pessanha; Sílvia, Barros et all. 2010, p. 33, afirmam que falar
das origens e da evolução desta disciplina, significa analisar a evolução dos estudos da criança
e do adolescente desde os antecedentes mais remotos até aos finais da década de 60 do século
XX.
As autoras supra citadas, argumentam que a Psicologia do Desenvolvimento
contemporânea surgiu no momento em que o estudo dos processos de modificação
psicológica ultrapassou as fronteiras da infância e da adolescência, passando a integrar no seu
estudo a análise do desenvolvimento durante a idade adulta e dos processos de
envelhecimento.


Elaborado por: Silvestre Galho