domingo, 19 de março de 2017

Prezados Estudantes da ESPKN

Prezados estudantes do Iº Ano da Escola Superior Pedagógica do Kwanza Norte - Angola.

Estão disponíveis os conteúdos da cadeira de Psicologia Geral para o Ano Académico 2017. Porém, como todo o trabalho humano está sujeito a erros, pedimos as nossas sinceras desculpas pelos possíveis erros a serem identificados na leitura desse material.
Reiteramos que estamos abertos a comentários e sugestões para o engrandecimento da ciência.

Bibliografia

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
  BRAGHIROLLI, M. Elaine; BISI, Paulo Guy; RIZZON, A. Luiz e NICOLETTO, Ugo. 2013 Psicologia Geral 33ª ed. Plural editores
  DORON, Roland &  PAROT, Francõise. 2001 Dicionário de Psicologia, 1ª edição Climepsi Editora, Lisboa
   MONTEIRO, Matos Manuela e DOS SANTOS Ribeiro Milice. 2002 Psicologia 1ª Parte Porto Editora
  PESSANHA, Manuela; BARROS, Sílvia; SAMPAIO, Ruth; SERRÃO, Carla; VEIGA, Sofia e ARAÚJO, Costa Sérgio. 2010 Psicologia da Educação (Colecção Universidade Ciências da Educação Volume 2). Plural Editores

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
  STRATTON, Peter e HAYES, Nicky. 2013 Dicionário de Psicologia. Pioneira Thomson Learning.
  HARRÉ, Rom. 2009 Grandes Pensadores em Psicologia. Editora Roca.


Bases Fisiológicas Do Comportamento

Bases Fisiológicas Do Comportamento
A um estudante do curso de Línguas ou de Biologia, poderia ou poderá ocorrer o seguinte questionamento: Por que estudar a Psicologia, e ainda mais os fundamentos biológicos do comportamento?
A resposta é simples!
Em primeiro lugar, porque o homem é um organismo biológico e, para que se possa compreender o seu comportamento, há necessidade de se estudar, também, a base orgânica que permite a sua existência.
Para que alguém se dê conta da importância dos factores biológicos sobre o comportamento, basta que reflicta um momento sobre o efeito impressionante das drogas, observável na vida quotidiana.
O ramo da Psicologia que estuda a base orgânica do comportamento é chamado de Psicologia Fisiológica.
A Psicologia Fisiológica é o estudo do modo pelo qual as mudanças no interior do organismo (no funcionamento das glândulas endócrinas, por exemplo) levam à alterações no comportamento (acções, pensamentos, emoções, etc.) e, também, o exame da maneira pela qual o organismo reage a situações psicológicas como as emoções, aprendizagens, percepções, etc. (8)
É importante, também, reconhecer, que antes de mais nada, o indivíduo (animal ou humano) é uma totalidade e como tal reage. A divisão entre os sistemas fisiológicos e psicológicos é feita por conveniência de estudo (Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 53).
A análise e experimentação fisiológicas permitem compreender muito sobre o comportamento. Um exemplo é o estudo fisiológico levado a efeito sobre o fenómeno da fadiga ‘’psicológica’’, nome dado ao cansaço que sente a pessoa empenhada em uma tarefa rotineira, monótona, por muito tempo. A explicação para este fenómeno revelou-se fora do âmbito da fisiologia do organismo.
Da mesma forma, observou-se que mudanças eléctricas ou químicas em determinadas áreas do cérebro têm estreita relação com mudança nos estados afectivos.
Assim, o estudo da estrutura fisiológica e seu funcionamento contribuiu de forma valiosa para a compreensão dos fenómenos comportamentais, quer humanos, quer animais.


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(8) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 53


3.1 - Mecanismos Fisiológicos Do Comportamento
Pode-se compreender o comportamento como o produto do funcionamento de três mecanismos fisiológicos, correspondendo, cada um deles a uma estrutura orgânica básica. São eles:
Ø  Mecanismo receptor: constituído pelos órgãos dos sentidos e que têm como função captar os estímulos do meio;
Ø  Mecanismo efector: compreende os músculos e as glândulas e reage aos estímulos captados;
Ø  Mecanismo conector: constituído pelo sistema nervoso, que estabelece a conexão entre o receptor e o efector.
Mecanismo receptor
Os sentidos
Os órgãos dos sentidos permitem a captação de um número incrível de informações, tanto do meio externo quanto interno.
Apesar de algumas pesquisas antigas continuarem a apontar cinco sentidos, as pesquisas fisiológicas mais recentes apontam um número maior de sentidos no homem.
Assim, segundo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 54, os sentidos podem ser classificados em dez categorias: visão, audição, olfacto, paladar, tacto, frio, calor, dor, cinestesia e equilíbrio.
Esta classificação é até certo ponto arbitrária, pois poder-se-ia listar u número maior de sentidos para o homem se se considerasse, por exemplo, a existência de receptores para a visão (cones e bastonetes) ou de receptores diferentes para os diferentes tipos de gosto (azedo, doce, salgado e amargo).
Os sentidos de tacto, frio, calor e dor são chamados, em conjunto, de sentidos cutâneos, e a cinestesia e equilíbrio são sentidos proprioceptivos, em oposição aos demais, exterioceptivos.

Os receptores
O elemento que realmente define cada sentido é o conjunto de células receptoras especializadas. Cada tipo de receptor reage a um tipo diferente de energia.
Assim, alguns receptores respondem à energia térmica, outros a energia química, uns à luminosa e outros à energia mecânica.
Os receptores térmicos encontram-se na pele, os receptores químicos são os do paladar e os do olfacto, os receptores da luz estão na retina dos olhos. Os receptores da energia mecânica são os da audição, da pressão (na pele), do sentido cinestésico e do equilíbrio.
Os receptores cinestésicos estão localizados nos músculos, tendões e articulações e informam sobre a posição dos membros e grau de contração muscular (Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 55).
Este sentido tem um importante papel na nossa adaptação ao meio. O caminhar, subir e descer escadas, dirigir automóveis, são alguns exemplos de comportamentos que seriam impossíveis sem ele.
Os receptores do equilíbrio, também chamado de sentido vestibular, estão nos canais semicirculares e vestibulares do ouvido interno e informam sobre a posição da cabeça e movimento geral do corpo, permitindo assim, a manutenção do equilíbrio, da postura corporal, dos movimentos firmes.
Os receptores da dor, localizados em muitos órgãos, reagem a uma grande variedade de estímulos térmicos, mecânicos e químicos.
As células receptoras estão ligadas a fibras de células nervosas. Quando uma célula receptora é estimulada, a energia estimuladora é transduzida. (9) E, se a energia for suficientemente grande, originará um impulso nervoso que é transmitido, através de várias células nervosas, ao córtex cerebral ou a outra região do sistema nervoso central.
Esta descrição simplificada do processo de recepção de estímulos mostra que o tipo de experiência sensorial que temos depende do receptor estimulado e não do tipo de estimulação.
Por isso, concordamos com os autores acima mencionados, quando argumentam que é possível afirmar que não temos uma experiência directa do mundo, mas que a nossa experiência sensorial é decorrente da estimulação, no córtex, de uma área sensorial especializada, ‘’ponto de chegada’’ de uma via sensorial específica. Por exemplo, se um grupo de células no córtex for estimulado através da implantação de electrodos, a experiência sensorial decorrente pode ser visual, ou auditiva ou outra, dependendo da área que foi estimulada. Com excepção do olfacto, cada superfície sensorial do corpo é ligada a uma área sensorial do córtex cerebral, especializada para um dos sentidos, no lado oposto do cérebro.






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(9) Transdução é o nome que se dá ao processo de transformação de um tipo de energia em outro, como por exemplo, a transformação da energia mecânica em energia eléctrica nervosa.


Mecanismo efector
As múltiplas estimulações do meio levam o indivíduo a reagir, para ajustar-se a ele. Neste processo de ajustamento, o comportamento motor e emocional têm um importante papel.
O comportamento observável se dá a partir dos efectores, ou órgãos de resposta, que incluem músculos e glândulas, activados pelo sistema nervoso.
É grande a amplitude de respostas humanas possíveis, desde a resposta reflexa imediata até os mais complexos comportamentos motores como correr, falar, escrever, etc.

Os músculos
Os músculos estriados ou esqueléticos são responsáveis, de maneira geral, pelos movimentos voluntários do corpo como levantar um peso do chão ou de escrever.
Os músculos lisos encontrados principalmente nas vísceras, artérias e veias, são responsáveis, em geral, pelos movimentos involuntários tais como contracção ou dilatação dos vasos sanguíneos, batimento do coração, etc.
O músculo cardíaco é o responsável pelo funcionamento do coração.
Sendo os músculos os órgãos pelos quais dependem toda a actividade do organismo (manter-se em posição erecta, falar, andar, redigir, etc.) é muito evidente a sua importância no comportamento do indivíduo, e no processo de adaptação ao meio.

As glândulas
Segundo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 57, as glândulas do organismo são classificadas em endócrinas (se lançam seus produtos na corrente sanguínea), exócrinas (se os lançam na superfície do organismo ou em alguma cavidade) e mistas (se lançam alguns produtos na corrente sanguínea e outros fora dela).
Assim como os músculos, as glândulas se constituem em mecanismos de resposta. Como por exemplo: o organismo reage ao alimento, procurando digeri-lo, através da acção das glândulas salivares ou elimina substâncias através dos poros cutâneos, pela acção das glândulas sebáceas ou sudoríparas.
As secreções das glândulas exócrinas (principalmente das lacrimais, salivares e sudoríparas) são úteis como indicadoras observáveis de estados emocionais.
São as glândulas endócrinas, entretanto, as de maior interesse para o estudo da Psicologia. Lançando suas hormónas na corrente sanguínea, estas glândulas promovem reacções globais do organismo, agindo como excitantes ou inibidoras de certas funções dos órgãos e tecidos. Estas glândulas têm íntima relação com as actividades motoras e emocionais do homem.
Um exemplo que demonstra claramente a relação mútua existente entre o funcionamento das glândulas endócrinas e o comportamento é o facto de o tamanho da glândula suprarrenal influenciar a reacção do adulto no stress. Por outro lado, o tamanho das suprarrenais pode ser modificado pela intensidade do stress a que é submetida a criança.
A suprarrenal é constituída de duas partes: o córtex e a medula suprarrenal. A medula que é o núcleo da glândula, entra em actividade durante os estados emocionais, produzindo adrenalina que prepara o organismo para as emergências. O córtex suprarrenal segrega hormónas que regulam a manutenção da vida, tanto assim que a destruição do córtex suprarrenal produz a morte. Estas hormónas controlam ainda o metabolismo do sal e carbohidrato do organismo.
As gónadas (glândulas sexuais) são responsáveis pela determinação do impulso sexual, crescimento dos órgãos sexuais e pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias.
É interessante notar que no homem, diferentemente do que ocorre no animal, a castração, após o alcance da fase adulta, não provoca o desaparecimento das respostas sexuais. Parece que no homem o sexo não é apenas resposta hormonal, mas também pensamento e sentimento.
As hormónas segregadas pela tiróide actuam sobre a actividade metabólica das células. O cretinismo (condição física e mental) é resultante do hipotiroidismo! Consequentemente, o hipertiroidismo pode provocar perturbações no crescimento do esqueleto. O nível de actividade de um organismo, a maior ou menos propensão à fadiga e o peso do corpo estão também relacionados ao funcionamento da tiróide.
A hipófise ou pituitária, compreende duas glândulas, a anterior e a posterior, com funções bem distintas.
A hipófiese posterior determina o ritmo e o controle da micção. A hipófise anterior, denominada glândula mestra, produz diferentes hormonas que além de influenciar no crescimento geral, regulam a actividade das demais glândulas.
Embora não haja uma relação directa entre a produção de hormonas e a personalidade do indivíduo, é evidente que o sistema endócrino desempenha destacada função em nossas motivações e emoções. Cada indivíduo tem o seu próprio padrão endócrino, assim, diferentes pessoas normais podem ter diferentes padrões endócrinos. (10)
Deve-se acrescentar que o sistema endócrino não é o único responsável pelo controle do comportamento. O sistema nervoso e o meio ambiente também devem ser considerados.

  

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(10) Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 58


Mecanismo conector
É o sistema nervoso que estabelece a conexão entre receptores e efectores. Formado por vários bilhões de neurónios que têm na sua maioria a função de condutores, o sistema nervoso pode ser dividido, para fins de estudo, de diversas formas.
Uma maneira comumente usada, é dividi-lo em três grandes partes: sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autónomo.

3.2 – Sistema Nervoso
Para a melhor compreensão da subdivisão do sistema nervoso, dividimo-lo da seguinte forma:
 


                                                 Medula espinal
                                Central                          Bulbo raquidiano
                                                  Encéfalo     Protuberância anular
                                                                     Cerebelo
                                                                      Mesencéfalo
                                                                      Diencéfalo
                                                                       Telencéfalo
Sistema Nervoso                                 Conjunto de vias nervosas aferentes e eferentes fora do       
                                    Periférico         sistema nervoso central

 


                                                          Sistema Simpático
                                   Autónomo
                                                          Sistema Parassimpático


3.2.1 - Sistema Nervoso Central
A medula espinal e o encéfalo, envolvidos pela coluna vertebral e caixa craniana respectivamente, constituem o sistema nervoso central. Este sistema fornece fibras nervosas para todo o corpo (excepto as vísceras, que são inervadas pelo sistema nervoso autónomo).
A medula espinal estende-se da base do crânio à região sacra, até o cóccix. É uma via condutora de estímulos e respostas. Tais respostas podem partir do encéfalo ou dela mesma, como é o caso dos reflexos simples.
A medula tem, entre suas funções, as de controlo da micção, defecação, respiração e locomoção.
Assim, a ruptura acidental dos feixes nervosos da espinal medula implica um défice motor e sensorial que abrange as zonas do corpo abaixo da lesão: se a lesão ocorre na parte inferior da medula espinal, a pessoa deixa de poder andar, bem como controlar os intestinos e a bexiga. Se a lesão ocorre na parte superior da medula, a pessoa deixa de poder controlar os braços. A lesão da espinal medula é irreversível.
     http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/10/sistema-nervoso.gif
O encéfalo é, na verdade, uma massa integrada, única e grande, mas que pode ser dividida para fins descritivos em seis partes principais: bulbo raquidiano, protuberância anular, cerebelo, mesencéfalo, diencéfalo e telencéfalo Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 59.
O encéfalo pesa cerca de 1,360kg no homem adulto e é maior na espécie humana, em proporção ao tamanho do corpo, do que em qualquer outro das espécies animais.

3.2.2 - Sistema Nervoso Periférico
O sistema nervoso periférico constitui-se por um conjunto de neurónios que vão dos receptores até a medula espinal e ao encéfalo (aferentes) e ao conjunto de neurónios que partem do sistema nervoso central e vão aos músculos e glândulas (eferentes).

3.2.3 - Sistema Nervoso Autónomo
O sistema nervoso autónomo é o responsável pela acção da musculatura e dos processos glandulares que de forma geral não estão sujeitos ao controlo voluntário.
Estruturalmente, o sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois: o simpático e o parassimpático.
A ramificação simpática actua durante os estados de excitação do organismo e age no sentido de dispender os recursos do organismo. Sua função, em geral, é preparar o organismo para situações de emergência como as de luta, medo ou fuga.
A ramificação parassimpática, pelo contrário, está em acção durante os estados de repouso, e visa conservar os recursos do organismo.
Alguns órgãos do corpo são activados por apenas uma destas duas ramificações, mas geralmente as estruturas abastecidas pelas fibras de uma delas também o são pelas de outra.
Em regra, as duas divisões funcionam de modo antagónico. Portanto, repara que numa situação de medo, a divisão simpática acelera o ritmo cardíaco, aumenta o nível de glicose no sangue, dilata os brônquios tornando a respiração mais rápida, dilata as artérias coronárias, provoca a vasoconstrição da pele, inibe a digestão, etc.
Compreendes agora melhor a origem de alguns sintomas que já experimentaste em situações de tensão: boca e garganta seca, coração a bater depressa, dores de barriga, etc.
Nos momentos de distensão, domina a divisão parassimpática: os batimentos do coração diminuem, ocorre a vasodilatação, que provoca um abaixamento da tensão arterial, dá-se a contracção dos brônquios, que torna a respiração mais lenta, estimula a digestão…
Na maior parte dos órgãos intervêm as duas divisões. Por exemplo: a divisão simpática acelera o ritmo cardíaco e a parassimpática diminui-o. É o funcionamento antagónico deste sistema que assegura o equilíbrio do meio interno do nosso organismo.
A figura abaixo, mostra o antagonismo funcional destas duas divisões do sistema nervos autónomo.
http://www.afh.bio.br/nervoso/img/SN%20aut%C3%B4nomo.gif























Elaborado por: Silvestre Galho

Principais métodos de investigação em Psicologia

PRINCIPAIS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA
No capítulo anterior, conceituou-se a Psicologia como ‘’ciência do comportamento’’. A primeira vista, este conceito parece excluir do âmbito de estudo da Psicologia os processos internos como sentimentos, pensamentos e outros. Para se evitarem estas e outras interpretações erróneas, enfatizamos que o ‘’comportamento’’ é entendido como toda e qualquer actividade do organismo, observável ou não.
A psicologia interessa-se por todo tipo de comportamento, mas pretende estudá-los na medida em que são descritíveis, isto é, alguns serão estudados directamente e outros de modo indirecto, tal como se manifestam através do comportamento observável.
Tal procedimento se justifica pela necessidade de se entender ao critério científico da objectividade. Para isso, além de serem observáveis, os comportamentos devem ser, preferencialmente, passíveis de observação pública, isto é, observáveis por mais de uma pessoa.
Os dados obtidos apenas pelos depoimentos introspectivos são bastante questionáveis. As pessoas quando relatam suas experiências internas, podem, deliberadamente ou não, ocultar alguns dados ou, então, não serem capazes de relatar adequadamente os acontecimentos.
A Psicologia, consciente de todas estas dificuldades, busca, na medida do possível, usar procedimentos objectivos na colecta dos dados, o que permitirá conclusões válidas sobre o comportamento. No entanto, nem sempre isto será possível e, as vezes será necessário combinar a descrição subjectiva da experiência com a observação directa da conduta.

2.1 – Etapas E Variáveis Da Pesquisa
As pesquisas em Psicologia seguem, de maneira geral, uma sequência típica de etapas. Em primeiro lugar, o investigador escolhe o tema da investigação. Logo a seguir delimita o tema que quer investigar.
Este problema envolve duas ou mais variáveis e é a respeito das relações entre elas que o estudioso está interessado.
Um exemplo de problema poderia ser: ‘’na escola, o trabalho em grupo promove uma aprendizagem mais rápida do que o trabalho individual?’’ ou então, ‘’a vitamina X aumenta a inteligência das crianças?’’
A seguir, é formulada uma hipótese a respeito do problema.
A hipótese pode ser entendida como uma explicação sugerida para o problema levantado e que será, então, corroborada ou refutada pela pesquisa.
Nos exemplos dados, as hipóteses poderiam ser formuladas assim: ‘’Na escola, o trabalho em grupo resulta numa aprendizagem mais rápida do que o trabalho individual’’, e ‘’A vitamina X aumenta a inteligência das crianças’’.
O investigador em Psicologia está sempre interessado num tipo ou aspecto do comportamento e as hipóteses que formula, procuram estabelecer as condições antecedentes deste comportamento. (4)
No caso do comportamento humano ou animal, as condições antecedentes são muitas, complexas e frequentemente inter-relacionadas.
Nessas condições se incluem as variáveis ambientais, como luz, som, temperatura, presença de outras pessoas, etc. e as variáveis da pessoa, como idade, sexo, inteligência, motivação, fadiga, experiências anteriores, etc.
É possível perceber a dificuldade e enormidade na tarefa do psicólogo investigador em estabelecer as condições responsáveis pelo comportamento.
Em geral, a condição que se supõe ser a causadora ou influenciadora do comportamento é chamada de variável independente. (5)
O comportamento que está sendo estudado e que, se supõe ser afectado pelas variações da variável independente, é denominado variável dependente.
Assim, nos estudos em Psicologia, quase sempre a variável dependente é um tipo particular de comportamento (resposta) e a independente é uma variável do ambiente ou do sujeito.
Nos exemplos acima, o tipo de trabalho desenvolvido na escola (em grupos ou individual) e o medicamento X são as variáveis independentes das respectivas hipóteses, enquanto que a rapidez na aprendizagem e a inteligência das crianças são as variáveis dependentes.
São numerosos os procedimentos empregados pela Psicologia científica para testar as hipóteses, isto é, para obter informações sobre o comportamento.
Parece ser possível descrevê-los como combinações ou variações de cinco métodos básicos: a experimentação, a observação, os testes, os levantamentos e os estudos de caso.


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(4)     Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 38
(5)     Ibid. p. 39


Experimentação
O objectivo básico da abordagem experimental em qualquer ciência é descobrir as condições antecedentes necessárias para que um evento possa ocorrer, ou seja, compreender as relações causais envolvidas nos fenómenos sob investigação.
Experimentar consiste em provocar a actividade do sujeito, criando as condições entre as quais pode manifestar-se o fenómeno psicológico. Tem por objectivo comprovar ou verificar uma ou mais hipóteses;
 Define-se a hipótese como uma suposição ou probabilidade entre dois factos.
Experimentar é provocar o fenómeno que se quer estudar, sob condições controladas, isto é, manter sob controle todas as condições relevantes que possivelmente estejam relacionadas ao evento. (6)
Controlar significa tanto eliminar a possibilidade de uma condição, influenciar o evento, quanto manter esta influência constante ou, ainda, promover uma variação sistemática da condição.                                                         
O método experimental caracteriza-se pelo controlo de variáveis. Busca determinar o efeito de uma condição particular (variável independente) sobre um determinado evento (variável dependente) limitando ou eliminando os efeitos de outras condições relevantes (variáveis de controle).
Assim, sob um controle bem feito, uma alteração na variável dependente pode ser atribuída a uma mudança na variável independente, já que os efeitos de outras variáveis importantes foram mantidos constantes ou nulos.
Suponhamos que um pesquisador utilize a experimentação para testar a hipótese que ‘’o medicamento X aumenta a inteligência das crianças’’.
Ele poderia administrar a droga a um grupo de crianças durante um determinado período e testar sua inteligência depois disto. Os resultados poderiam ser comparados com os anteriormente obtidos e um eventual aumento nos escores poderiam ser detectados.
No entanto, como poderia ter ele a certeza de que este efeito é devido a droga? Outros factores poderiam ter actuados, como a alimentação, as experiências escolares e outros.
Para testar o efeito da droga, ele deverá manter constantes todos os outros factores, para que eles não venham a interferir na eventual diferença observada.
Assim, poderá formar três grupos de crianças equiparados quanto ao número de sujeitos, idade, sexo, classe social, etc., e procurar proporcionar a todos eles a mesma alimentação, experiências escolares, etc.
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(6)     Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 40

A um dos grupos seria administrado regularmente o medicamento X, ao outro poderia ser administrado um placebo, isto é, no caso, um medicamento de aparência idêntica ao medicamento X mas sem efeito algum, do tipo ‘’pílula de açúcar’’ e, finalmente, ao terceiro não seria administrado medicamento algum.
A existência do segundo grupo é necessária já que uma eventual diferença nos escores do teste poderia ser devido a efeito psicológico (motivação, autoconfiança, etc.). Por se estar ingerido uma droga que se acredita eficaz.
Neste exemplo, o controle de variáveis como sexo, idade, classe social, etc., foi feito por equiparação dos sujeitos nos diferentes grupos. As variáveis como: alimentação, as experiências escolares, etc., foram mantidas constantes, proporcionando-as igualmente aos três grupos. Os efeitos de variáveis como motivação e autoconfiança serão controlados através do procedimento adotado com o segundo plano, onde estas variáveis são introduzidas também como independentes.
Estas são as maneiras mais frequentemente utilizadas pelos psicólogos para fazer controle de variáveis.
Chama-se grupo experimental àquele onde se introduz o procedimento experimental, isto é, àquele que sofrerá os efeitos da variável independente. Grupo de controle é aquele que só difere do experimental pela ausência desta variável.
O método experimental é, dentre os métodos de pesquisa, o que oferece o mais alto grau de certeza na conclusão, dadas as condições de controle.
A possibilidade de repetição do estudo é, também, uma importante vantagem da experimentação.
O método de experimentação apresenta ainda outras características, etapas vantagens e desvantagens.

Observação
Os métodos de observação podem ser subdivididos em dois tipos: os de observação naturalista e os de observação controlada.
O investigador que utiliza a observação naturalista deve unicamente observar, sem interferir no comportamento que está observando. Esta observação envolve, portanto, o estudo do comportamento natural, espontâneo, ocorrendo no ambiente real da vida quotidiana.
Este método mostra-se especialmente indicado para o estudo de certos tipos de conduta, como a infantil, a social, os costumes de pessoas de culturas diferentes, enfim, todos os comportamentos que numa situação diferente da quotidiana, ou não ocorreriam ou seriam tão artificiais que nenhuma conclusão válida poderia ser obtida da sua observação.
A observação naturalista é o método básico de praticamente todas as ciências, em seus primeiros estágios de desenvolvimento, e permite estabelecer a incidência relativa de vários tipos de comportamento. No caso de um mesmo comportamento ser comparado ao de diversas amostras de características diferentes, poderão vir a ser estabelecidas relações gerais.
O principal atractivo do método de observação naturalista consiste no facto de possibilitar conclusões com um elevado grau de generalização, já que estuda comportamentos espontâneos em situações reais.
Contudo, esta mesma característica introduz no método sua principal deficiência, visto que o observador não possui controle algum sobre as inúmeras variáveis que influenciam o comportamento dos sujeitos em qualquer etapa da observação.
Assim, o estudioso muitas vezes nada pode concluir a respeito da variável ou variáveis que exerceram uma influência causal sobre o comportamento observado.
Além disso, o método costuma requerer muito tempo. Frequentemente são necessárias horas de observação para que se possa perceber fragmentos de comportamento, como, por exemplo: agressão numa criança em uma determinada situação. Há que se aguardar, as vezes, muito tempo para que o mesmo comportamento se repita, em condições semelhantes. Aceita-se, igualmente, o risco de que o comportamento desejado nunca ocorra no indivíduo ou indivíduos observados.
Uma outra dificuldade é uma risco de subjectividade, isto é, a tendência humana universal de perceber o que se quer perceber e não o que realmente acontece.
Para minimizar este risco e outros problemas, os pesquisadores costumam colocar em prática alguns procedimentos que aumentam a precisão do método, como:
1 - Treinamento prévio dos observadores (pessoas treinadas têm mais chances de perceber os factos quando se dão);
2 - Actuação simultânea de vários observadores (o que permite averiguar a concordância ou discordância das observações);
3 - Observação de um único tipo de comportamento por vez (a observação de todos os tipos de comportamento não será tão precisa);
4 - Definição detalhada e objectiva do comportado a ser observado (o que pode evitar muita discordância entre observadores);
5 - Amostragem de tempo (isto é, determinar períodos, em geral curtos e variados, em que deve ser efectuada a observação);
6 - Registro, o mais complexo possível, e análise dos dados quantitativos (o que confere maior objectividade) e,
7 - Utilização de aparelhagem auxiliar para a observação (como gravadores e filmadoras que podem registrar os dados de maneira mais completa e objectiva que o ser humano).
A observação também pode ser feita mantendo-se um certo grau de controle sobre o meio em que o comportamento ocorre. Neste caso, denomina-se observação controlada.
A principal vantagem da observação controlada é a possibilidade de limitar a influência das variáveis extrínsecas sobre o comportamento ou de introduzir deliberadamente uma variação no meio para avaliar o seu efeito sobre o comportamento em estudo.
Num estudo de observação controlada, o pesquisador pode esconder-se atrás de um espelho unidireccional e minimizar as possíveis influências de sua presença sobre o comportamento do observado.
É o que costumam fazer os pesquisadores que estudam a reacção infantil a situações estranhas e pessoas desconhecidas. Em geral, a mãe e o bebé são introduzidos numa sala equipada com dispositivos de visão unilateral. O bebé é colocado no chão onde são espalhados previamente muitos brinquedos e a mãe permanece sentada numa cadeira, na mesma sala. O comportamento exploratório do bebé é observado e registrado através do vidro unilateral e, a um sinal do investigador, a mãe sai da sala, deixando a criança sozinha no ambiente estranho. Também é possível fazer com que um estranho entre na sala, com a mãe presente ou ausente.
Estudos que empregam estes procedimentos concluem que a presença da mãe tem um efeito facilitador sobre o comportamento exploratório do bebé, enquanto que a presença de uma pessoa estranha tem um efeito inibidor (McGURK, 1976, p. 95-96), citado por Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 46.
O método de observação controlada tem muito em comum com o da observação naturalista, sendo também sua principal vantagem o comportamento espontâneo. Além disso, ao possibilitar algum controle sobre as variáveis ambientais, permite conclusões mais fidedignas a respeito da influência de certos factores sobre o comportamento observado.
Ao mesmo tempo, porém, o facto de o ambiente ser quase sempre estranho ao sujeito pode promover comportamentos típicos (apesar de espontâneos), o que limitaria o grau de generalização das conclusões.

Levantamento
Método também denominado de ‘’estudo exploratório’’.
Os psicólogos interessados em estudar os costumes sociais, as variações nos costumes de uma cultura para outra, preferências de um público consumidor, determinadas atitudes de uma população, e outras questões, adoptam um método parecido com os usados pelos sociólogos, antropólogos culturais e economistas. Fazem entrevistas ou aplicam questionários e, assim, são capazes de obter informações muito significativas sobre uma determinada população e, mesmo de demonstrar relações existentes entre o comportamento caracterizado e os factores ou comportamentos.
O pesquisador decide, antecipadamente, a respeito do comportamento que quer investigar e simplesmente pergunta às pessoas como elas se comportam, como se sentem, do que gostam, etc.
As questões do instrumento utlizado (roteiro de entrevista, questionário ou escala de atitudes) deverão ser muito bem elaboradas, para não ter sentido ambíguo e nem induzir as respostas.
Outro cuidado especial deve ser tomado quanto à escolha das pessoas que serão incluídas no levantamento, pois elas precisam ser uma amostra realmente representativa da população inteira.
As pesquisas sobre atitudes sociais fornecem bons exemplos de levantamento ou estudo exploratório.
O estudo de Hyman e Sheatsley (1954, descrito por HENNEMAN, 1974, p. 69-70), citados por Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 47, utilizou uma escala que media autoritarismo para mostrar a relação entre esta característica e o nível educacional. O estudo concluiu que indivíduos com o curso universitário são em geral, mais liberais em seus pontos de vista do que as pessoas que têm apenas educação elementar. Estas revelam maior tendência para o autoritarismo
É preciso não se deixar levar pela aparente conclusão que o nível educacional determina o autoritarismo. As duas variáveis estão apenas relacionadas; muitos outros factores como: nível socioeconómico, educação familiar, etc., contribuem para a formação do autoritarismo.
Em outras palavras, os levantamentos podem oferecer correlações, isto é, podem mostrar que duas variáveis estão relacionadas, mas não estabelecem qual delas é a causa e qual é o efeito.
Pelo método de levantamento, por exemplo, demonstrou-se existir uma relação positiva entre saúde mental e casamento, mas, isto não nos diz se a saúde mental determina ou é determinada pelo casamento.
Esta ausência de relação causal é uma das principais limitações do método, mas outras poderiam ser apontadas, como por exemplo, o risco que sempre se corre das pessoas selecionadas para compor a amostra se recusarem a oferecer informações ou de distorcerem-nas.
Não se deve desprezar também, a possibilidade da distorção ocorrer por efeito do comportamento do próprio pesquisador.
Apesar destes problemas, o levantamento, quando combina entrevista e questionário, pode ser mais objectivo, útil para se extrair conclusões sobre um grande número de pessoas, além de ser um método relativamente rápido e barato (7).
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(7)     Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, Luiz Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto. Psicologia Geral, 33ª edição, p. 47

Teste
Elaine Maria Braghirolli, Guy Paulo Bisi, et al, p. 47, afirmam que costuma-se classificar os testes psicológicos em dois grandes grupos:
1º - Os que exigem da pessoa o seu desempenho máximo, chamados de testes de capacidade ou de realização;
2º - Os que solicitam respostas em termos de comportamento costumeiro, denominados testes de personalidade.
Entre os primeiros (testes de capacidade ou de realização) estão os testes de inteligência e aptidões específicas como, por exemplo, raciocínio espacial, mecânico, habilidade numérica, rapidez, atenção e outros.
São avaliadas pelos testes de personalidade características como atitudes, interesses e traços de personalidade em geral.
Os testes de capacidade são considerados mais objectivos que os de personalidade, já que não dependem do que o indivíduo está disposto a relatar sobre si mesmo. Indicam o que o indivíduo pode fazer (e não o que ele afirma que pode realizar) e como são tarefas padronizadas, sempre contém instruções para sua aplicação e interpretação.
Sob condições controladas, apresenta-se a cada sujeito uma serie idêntica de estímulos, que são os itens do teste. As respostas são avaliadas objectivamente já que existem critérios predeterminados para isso.
Como também se costuma chamar de testes aos questionários e escalas, usados no método de levantamento, alguns autores consideram o levantamento como uma modalidade do método de testes (ver, por exemplo, EDWARDS, 1973, p. 19-20).
Um bom teste é o que possui um alto grau de fidedignidade ou precisão, isto é, é aquele que permite encontrar o mesmo resulta em aplicações diferentes, para um mesmo indivíduo e, além disso, é o que possui também um alto grau de validade, ou seja, é um instrumento que realmente mede o que diz medir.
NB: não se deve pensar que só existem testes de lápis e papel. Muitos são os testes que empregam outros materiais ou que exigem do sujeito respostas orais ou outras reacções que não se escrevem.
Os testes têm muitos empregos, mas os principais são: predizer o êxito futuro em uma actividade (como escola ou trabalho), ajuizar sobre a presença actual de determinadas proficiências e diagnosticar desajustes comportamentais.
As vantagens mais apontadas do método de testes são a objectividade e o relativamente pequeno tempo necessário para se chegar aos resultados finais.
No entanto, apesar destas vantagens, o método tem limitações. Não são todos os apectos do comportamento passíveis de mensuração por teste. Alguns testes, como os de personalidade, estão sujeitos a fraude e má interpretação dos itens. Outros erros podem ser devidos a má aplicação.
Um problema comum entre os testes, é que eles costumam ser vistos como ‘’fórmulas mágicas’’ para se saber coisas sobre as pessoas e, a partir dos resultados de um teste, as pessoas são ‘’rotuladas’’.
Pode-se imaginar os muitos efeitos negativos de um ‘’rótulo’’, como na formação da personalidade de uma criança, por exemplo.
Além disso, uma deficiência marcante deste método é que ele interfere no comportamento a ser avaliado, visto que os estímulos e situações de escolhas são fornecidos pelo investigador. Isto pode resultar em certa soma de artificialismo no comportamento e, assim, a possibilidade de generalização dos resultados fica limitada.

Estudo de caso
O estudo de caso (ou histórico de caso, ou método clínico) tem como objectivo primordial ajudar pessoas com algum tipo de problema. Inicialmente, o psicólogo clínico não está interessado em formular princípios gerais do comportamento, mas sim em avaliar correctamente as dificuldades particulares do indivíduo para poder ajudá-lo, apoiado, é claro, em modelos teóricos adequados.
Para auxiliar o indivíduo, o psicólogo colecta informações sobre ele. As informações são provenientes principalmente de entrevistas, mas também poderão ser utilizados testes e observação. Todos os dados, incluindo a história passada do indivíduo, seu exame físico e ficha clínica, informações a respeito de ralações familiares, dificuldades anteriores, etc., constituirão a base para o diagnóstico da dificuldade a que o psicólogo chegará sozinho ou junto a uma equipa (que pode incluir assistentes sociais, métodos e outros psicólogos).
A abordagem clínica, apesar de não objectivar primeiramente as leis gerais do comportamento, pode chegar a elas através da comparação de um grande numero de estudos de casos semelhantes segundo algum aspecto importante.
Costuma-se apontar como principal valor do estudo de caso o facto de ser o único aplicável para se estudar o comportamento desajustado.
Realmente foi com a utilização básica deste método que Freud chegou à importantes generalizações sobre o comportamento humano que fundamentam a psicanálise.
Alguns psicólogos, no entanto, afirmam que este método não é rigorosamente científico visto que lida com comportamentos não repetíveis, não se encontra nele controle e nem a possibilidade de quantificação.
Além disso, a subjectividade se faz presente de maneira marcante, visto que o diagnóstico do caso está sujeito a interpretação individual do psicólogo, baseando-se na sua própria experiência e tendências teóricas.
Apesar destas dificuldades todas, o método de estudo de caso tem se mostrado útil e continuará sendo utilizado, mas seria desejável que se introduzisse, sempre que possível, técnicas de estudo que lhe conferissem maior produtividade e concordância nos procedimentos de diagnóstico e terapia.

2.2 – A Estatística Em Psicologia
A Psicologia, assim como qualquer ciência, envolve a mensuração dos fenómenos e disto costumam resultar dados numéricos. Por exemplo, número de vezes que um comportamento foi observado, diferença de pontos entre dois grupos experimentais, frequência de uma resposta em um levantamento ou testes, etc.
Para lidar com estes números, o psicólogo vale-se da estatística.
Parece ser possível apontar duas finalidades principais do emprego da estatística pela Psicologia: 1ª – a descrição e, 2ª – a interpretação dos dados colectados pela pesquisa.
A estatística descritiva auxilia o psicólogo a organizar os dados em tabelas, e a representá-los graficamente, a calcular as medidas de tendência central, etc.

A estatística inferencial é a que permite interpretar os dados, chegar a conclusões através deles. Esta análise dos dados, é, sem dúvida, um emprego importante da estatística em Psicologia, sem o qual não poderia avançar a ciência como tal.









Elaborado por: Silvestre Galho